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O Cinema Olympia, localizado no bairro Campina, é o mais antigo cinema em funcionamento do país e uma das salas de exibição mais antigas do mundo, o que faz o espaço cultural municipal ter a possibilidade de ser reconhecido também como patrimônio cultural da humanidade pela Unesco.

Falar sobre o Cinema Olympia é discorrer sobre a formação cultural de várias gerações e períodos históricos que remetem à abertura no dia 24 de abril de 1912, por Carlos Teixeira e Antônio Martins, aos dias atuais. Era o período economicamente glorioso da Belle Epóque e o Olympia como parte do polígono cultural formado pelo Palacete Bolonha, Grande Hotel e Theatro da Paz.

A formação cinematográfica se dá pela fruição de filmes, mostras e eventos do setor audiovisual que funcionam como reeducação do olhar numa época de muitos estímulos e facilidades de acesso ao conteúdo de imagens.

O Cine Olympia é um dos meus pilares de formação cinematográfica continuada, pois proporcionou o conhecimento do cinema local (mostras, lançamentos e festivais), cinema brasileiro e as cinematografias do mundo.

São títulos assistidos no templo da imagem da Av. Presidente Vargas e outros títulos, que, por ora, fogem à memória.

No primeiro contato, na infância, os filmes da turma do Charlie Brown, as comédias com Renato Aragão e as produções dos estúdios Disney (o que inclui “Fantasia” e “A Ilha no Topo do Mundo”).

O cinema brasileiro marca presença com a exibição documentários importantes para a nossa cinematografia: “Assim era a Atlântida”, de Carlos Manga”; e “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho.

Temos o Olympia de temporadas em que a bilheteria dobrava a semana, para filmes como: Pixote” e “O Beijo da Mulher Aranha”, de Hector Babenco; “Bar Esperança”, de Hugo Carvana; “Pra Frente, Brasil”, de Roberto Farias; “Um Trem para as Estrelas”, de Cacá Diegues; “Para Viver um Grande Amor”, de Miguel Faria Jr. e “A Dama do Cine Shangai”, de Guilherme de Almeida Prado.

Há o Olympia com programação dedicada ao cinema italiano, com obras de Lina Wertmuller (“Dois na Cama numa Noite de Chuva”), Bernardo Bertolucci (“La Luna” e “O Céu que nos protege”), Luchino Visconti (“Violência e Paixão”) e a trilogia da vida de Pier Paolo Pasolini (“Decameron”, “As Mil e uma Noites” e Os Contos de Canterbury”).

Do mesmo modo, produções imperdíveis da cinematografia francesa passavam pelo projetor do Olympia: “A Guerra do Fogo” de Jean-Jacques Annaud; “A História de Adele H.”, de François Truffaut; “Eu Sou o Senhor do Castelo”, de Régis Wargnier; “Um Condenado à Morte Escapou” de Robert Bresson; “Brindemos a Nós Dois”, de Claude Lelouch”, entre outros.

Com os musicais, os movimentos de sons, acordes e danças em “All that jazz”, de Bob Fosse; “Hair”, de Milos Forman; “Pina”, de Win Wenders e “Rattle and Hum”, de Phil Joanou sobre a banda U2.
O cinema do mundo dialoga com a plateias locais com trabalhos da Suécia (Ingmar Bergman com “Sonata de Outono”), o cinema alemão de Werner Herzog (“O Enigma de Kaspar Hauser”, “Nosferatu”), o cinema de Roman Polanski (“Tess”), de Nagisa Oshima (“Império dos Sentidos”), etc.

A distribuição do cinema americano, hegemônica por razões industriais, exibiu na tela do Olympia clássicos como “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick; “Cinzas no Paraíso”, de Terrence Malick; “Apocalyse Now”, de Francis Coppola; “O Expresso da Meia-Noite”, de Alan Parker; “O Homem Elefante”, de David Lynch; “Scarface”, de Brian De Palma; “O Segredo de Brokeback Mountain”, de Ang Lee; a coprodução franco-ítalo-americana “Era uma vez na América”, de Sergio Leone, entre outros exemplares.


Da obra de Woody Allen, por exemplo, o Olympia exibiu “A Rosa Púrpura do Cairo”, “Zelig”, “Manhattan”, e outros trabalhos de Allen.

Os filmes de cinema, na época com exibição em película, aos poucos foi cedendo às novas tecnologias e modos domésticos de fruir filmes com o advento do VHS, DVD, Blu-ray e streaming.

O tempo voa e a imagem captada pelo cinema também requer salas de exibição revitalizadas por meio da iniciativa pública e a parceria pública e privada em várias capitais brasileiras.

Assim, esperamos que o Cinema Olympia volte a ocupar o espaço de referência de exibição cinematográfica para essa e as próximas gerações.

José Augusto Pachêco
José Augusto Pachêco é jornalista, crítico de cinema com especialização em Imagem & Sociedade – Estudos sobre Cinema e mestre em Estudos Literários – Cinema e Literatura. Júri do Toró - 1º Festival Audiovisual Universitário de Belém, curadoria do Amazônia Doc e ministrante de palestras e cursos no Sesc Boulevard e Casa das Artes.

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