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O jornal O Estado de São Paulo publicou o resultado de uma pesquisa feita com 16 mil pessoas, a respeito de leitura e consumo de livros. O resultado, tal como outras pesquisas, é desalentador. Um reles escritor como eu, sente-se ameaçado, sente-se não sendo querido, que sua atividade é completamente descartável. Imaginem que 84% das pessoas pesquisadas, não compram livros. Simples, assim. Sobram 16% e olhe lá, e 46% da classe C, o que é surpreendente (será surpreendente mesmo?), afinal, classes superiores tenderiam a ter melhor educação e natural interesse pelos livros. Mas não. Bom que as mulheres são em 61% superiores aos homens nas compras. Desses que compram livros, a maioria chegou ao fantástico número de 3 a 5 livros em 12 meses. Uma façanha! Como já sou velho, gosto de comprar livros físicos, até pelo cheiro, mas a pesquisa revelou que 56% das pessoas têm adquirido livros pela internet, quase sempre mais baratos que nas lojas físicas. Afinal, as lojas pagam impostos, aluguel, luz, água, telefone e salários, que incidem sobre os preços dos livros físicos. Cerca de 39%, prefere comprar nas lojas físicas. Talvez também seja esse nosso mundo absurdo em que todos parecem querer ter um teclado de anteparo entre as conexões com pessoas. Uma livraria é acima de tudo um local agradável, para encontrar amigos, novos amigos ou simplesmente conversar. Como era de se esperar, dos mais vendidos livros, a maioria é de não ficção, onde ficam certamente os de auto ajuda, com aqueles títulos que até incluem palavrões incitando a compra e a promessa de uma mudança de atitude na vida das pessoas. Pela posição, muita gente acredita. Será? Me incluam fora dessa. Em segundo lugar ficam a ficção para adultos, a ficção científica, livros técnicos e profissionais. Imaginem que de 2019 a 2024, a leitura perdeu 6,7 milhões de leitores em volume de venda de livros. Um número expressivo e desalentador. Entre as razões alegadas para não ler livros, a que mais aparece é de quem prefere passar o tempo na internet. Alguns acham os livros chatos, outros sentem sono. Ficam na tv, ouvem música ou rádio. Também preferem assistir vídeos em streaming, com a família.

Fica no ar a pergunta, se é verdade que o mundo vai acabar com os humanos se comunicando apenas através de grunhidos. Ou sinais eletrônicos. É fato comprovado que a falta de leitura prejudica a fala, o pensamento, o conhecimento e a reflexão. Há até quem leia. Não consiga explicar o que leu. Temos um enfraquecimento da linguagem, o que pode ser percebido nas trocas de mensagens entre jovens adultos. As redações para os exames que dão acesso às universidades são agora medidas por número de palavras, tamanhos exatos para introdução, meio e conclusão. É para dar mais agilidade à correção, mas prejudica os que sabem escrever e que poderiam fazê-lo de maneira brilhante. Assim, através de fórmulas, ou respostas a respostas A, B ou C, eliminamos a reflexão e a exposição dos saberes. Eu não seria nada sem a leitura. Não teria vocabulário, não saberia falar, escrever, pensar. Consumo muitos livros e nem por isso deixei de assistir a filmes ou jogos de futebol. Quando leio o resultado dessas pesquisas, sinto desalento. Serão os capítulos finais da obsolescência de escritores de ficção? Já não bastam todas as outras atrações, coloridas, fantásticas e agora vem esse “cancelamento” da leitura? Não há jeito. Quem escreve, nunca vai parar de escrever, nem que seja para si próprio. Talvez seja esse o final. Que pena.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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