Francisco Rohan de Lima é meu irmão. Desde quando nos vimos pela primeira vez, nos reconhecemos em vocabulário, gostos e opiniões. Eu tinha uma loja de discos, a 331/4 onde um grupo foi se chegando, Janjo, Luiz Braga, José Franco, João Carlos Braga e Rohan. Almoçávamos semanalmente, discutindo todos os assuntos. Quatro de nós, polímatas. O tempo, como sempre, as responsabilidades da vida cotidiana foram separando a turma que, no entanto, permanece amiga. Janjo, José e João Carlos abriram o Roxy. Eu e Rohan falávamos sobre livros. Na época eu estava em breve intervalo da leitura, metido em diversas pautas que não sei como dava conta. Mas Rohan me reapresentou a Literatura. Comemoravam sei lá quantos anos da Revolução Francesa e saíram muitos lançamentos. Passava o filme “Danton, o processo da revolução”, de Andrej Wajda, tempo do Solidariedade, enfim. Conversávamos sem parar. Ele tinha vindo de Macapá, morara em República, e agora estagiava no mais famoso escritório da cidade, de Otávio Mendonça. Um vencedor insaciável. Devotado ao êxito, ao trabalho suado para chegar ao máximo, sempre. Um “escutador” dos bons, aproveitando o que ouvia. Advogado da Albrás, advogado e chefe do setor jurídico da Vale do Rio Doce. Ascensão meteórica, mercê de grandes feitos profissionais, obtidos duramente, com brilho, estudo, profissionalismo, talento e uma mente arejada de leitor compulsivo e frequentador de teatro. Eu havia escrito “Foi Boto Sinhá” e estava, como disse antes, cheio de pautas. Lancei meu primeiro livro de poemas e Rohan foi um dos que apoiou. Li sobre a Cabanagem. Em misto de ousadia e ingenuidade, ajudado por Rui Barata, escrevi “Angelim”. Rohan já havia trazido de volta o Grupo Experiência. Agora, com um empréstimo do Banpará e apoio do governo, juntamos os melhores atores e ficamos três meses em cartaz no Teatro da Paz. Rohan na produção, garantindo todo conforto ao elenco. Levou o Experiência a Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro. E conversávamos. Líamos. Ríamos. Lancei outros livros. Ele escreveu nos jornais locais, sempre elogiado. Seu texto leve, gostoso, mas preciso. E então seu talento, seu profissionalismo, seu conhecimento o levaram para o cume do Direito, na Vale. Ia até Pequim como nós vamos a Mosqueiro. A amizade continua. Não precisamos ligar um para o outro toda semana. Mas quando falamos, parece que foi ontem. Vem às vezes aqui ver a família. Quando vou, separamos uma tarde ou noite para botar o papo em dia. Leva uma vida mais calma e escreve artigos festejados para os maiores jornais, além de lançar livros com temas jurídicos. Escreveu alguns capítulos de um romance, com uma história saborosa, afianço, porque li, mas vai procrastinando eternamente terminá-lo. Mas com “O Jornalista Acidental – Memórias Afetivas”, que acabou de lançar, com 600 páginas, voltei a ter esperanças. No livro, que pode ser achado na Amazon, Rohan inclui os mais diversos artigos que escreveu sobre Teatro, Música, Literatura, Vida e vitórias na área jurídica. Está lá o texto preciso, com ritmo, educado, levemente irônico, feliz. Estou em vários momentos por conta de nossas aventuras ali nos anos 80, creio. Me emocionei, mais uma vez ao reler um artigo sobre meu livro “BelHell”, que escreveu e publicou em jornal de São Paulo. Ali está toda a força de uma amizade e a percepção exata do meu estilo e motivações. Ele já havia escrito a “orelha” de meu primeiro livro de poesias, “Navio dos Cabeludos”. Rohan frequentou o “Senadinho”, grupo que reunia semanalmente no restaurante “Lá em Casa”, para discutir sobre qualquer assunto, polímatas que eram. Vários já partiram e os textos são deliciosos. Estou de posse da preciosidade, que li aos poucos, degustando cada página, torcendo para não terminar. Que bom que Rohan Lima é meu irmão!
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