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Por que você se pinta? Deus te fez tão linda e você se enche de tinta no rosto. Está em “Hamlet”, de Shakespeare. Pensei nisso ao assistir a paraense Alane, que vem sobrevivendo aos paredões do BBB24. Ela é linda, jovem, cheia de energia, mas a cada noite, passa horas em frente a um espelho a montar uma verdadeira máscara de pós, cremes, batons e sombras nos olhos. Penso que talvez seja maneira de driblar as longas horas sem ter o que fazer, a não ser fofocar, que propõe o programa. Penso nas outras mulheres que se prestam a esse ritual por vários motivos. Talvez seja um momento em que elas olham não somente para a superfície da face, mas para dentro de si e enquanto traçam as linhas, argumentam consigo próprias razões de existência e planos. No BBB24 levam tanto tempo e no entanto, em poucos minutos, nas festas diárias com shows de artistas famosos, suam, borram a maquiagem e os cabelos estão um caos. Os homens também têm seus momentos, não como elas, mas quando acordam e fazem a barba. Bem, talvez não sirva para países árabes. Na pressa, raspamos a barba sem prestar muita atenção, já sabendo as direções da lâmina. Mas alguns, eu já fiz isso, detém-se em olhar o moleque que mora dentro de nós. Olhei também a superfície, notando as rugas, a ação da gravidade sobre os músculos, a barba e sobrancelhas com cabelos brancos. Hoje, noto quando há homens que não dão nenhuma atenção a isso, na rapidez dos seus dias, principalmente as sobrancelhas que de tão crescidas, parecem terraços que se debruçam sobre os olhos. Experimente procurar sobretudo o cara que mora dentro do seu eu, que se deixa perceber pelos olhos. O que ele lhe diz? E voltando às mulheres, será que olham, também, dessa maneira? Antigamente, as mais velhas raspavam e no lugar, desenhavam com lápis, sem perceber o dano causado. Hoje há casas especializadas em sobrancelhas, com resultados até assustadores, que, no entanto, são, aparentemente, super valorizados. Claro que nada disso é novo. As mulheres e os homens se pintam desde que o mundo é mundo e hoje, o Brasil, por exemplo, é um dos maiores mercados de cosméticos do planeta, quem sabe sendo superado apenas pela França que também é a meca dos perfumes. Um pequeno vidro, desde que com nome francês, custa no mínimo, mais de quinhentos reais. E no entanto vendem sem parar. O mercado de perfumes masculinos também é bem agitado. Tenho a dizer, apenas, que, tirando por mim, deve ter movimento menor. Homens são mais fiéis a seus perfumes favoritos. Dificilmente trocam. Tiro por mim. Homens borrifam perfumes muito rapidamente, sem meticulosidade, como as mulheres, que sabem os lugares certos, de tal maneira que a fragancia seja sentida por muito tempo e em certos casos, chegue primeiro do que a usuária, nos lugares. E a pintura das mulheres? Mesmo em um momento em que elas vêm abrindo caminho no muque no mercado de trabalho, direitos e opiniões, a coisa da maquiagem continua se impondo. Direito de se pintar, direito de querer e se achar linda, maquiada, claro. Em tudo, há sempre o argumento do equilíbrio, o menos é mais. E o que me deu vontade de dizer essas bobagens foi assistir Alane, a paraense, tão linda, fresca em sua juventude, se pintar como uma máscara kabuki. Pronto, falei.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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