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O ódio, o fanatismo e a intolerância na política partidária brasileira produziram hoje uma tragédia com dois mortos e pelo menos duas famílias destruídas. O guarda municipal Marcelo Arruda foi morto a tiros hoje de madrugada na festa de seus 50 anos, deixando viúva e quatro filhos, entre eles uma menina de 6 anos e um bebê de 1 mês. O atirador, Jorge José da Rocha Guaranho, agente penitenciário federal, também foi morto, deixando viúva e uma filha de colo. Nas imagens do circuito interno de câmeras de vigilância do local, é perfeitamente visível que, ferido, Marcelo Arruda se protege atrás de uma mesa, no chão, Jorge Guaranho vai em sua direção para de novo atirar nele e é impedido por uma mulher (provavelmente a esposa de Marcelo, que é policial civil), que o desarma, momento em que Marcelo atira nele várias vezes. Guaranho cai perto da porta, ferido mas vivo. Entra um dos convidados da festa, que passa a chutar repetidas vezes a sua cabeça e aparentemente atira ao menos quatro vezes nele e depois deposita a arma em cima de uma mesa. Em seguida todos cercam o anfitrião caído e, ao notarem a gravidade da situação, dois dos convivas (o que chutou antes e mais um amigo) voltam ao lado da porta e o outro chuta a cabeça de Guaranho (foram no mínimo 14 chutes na cabeça, que já estava uma poça de sangue. Quatro desferidos pelo primeiro e dez pelo segundo). A cena foi testemunhada por pelo menos seis pessoas, que aparecem no vídeo. As duas armas funcionais – uma pistola taurus 380 (GM) e outra calibre  ponto 40 (do Policial Penal) foram recolhidas para perícia, que deve periciar também os presentes na festa (vestígios de pólvora nas mãos e os sapatos dos dois que estão vivos) para a devida elucidação dos crimes.

Arruda era diretor do Sismufi, o Sindicato dos Servidores Municipais de Foz e nas eleições de 2020 foi candidato a vice-prefeito de Foz do Iguaçu pelo PT, tendo se notabilizado pelas críticas ao presidente Bolsonaro, pelas redes sociais. A festa do aniversário era na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu (Aresfi), na Vila A, para cerca de 40 pessoas, decorada com temática, cantos e vivas ao ex-presidente Lula. De acordo com as testemunhas, Guaranho passou por lá em um veículo Hyundai Creta, acompanhado da esposa, que carregava uma bebê no colo. Gritou “é Bolsonaro, seus filhos da puta”. Marcelo Arruda saiu da festa para ver o que acontecia, o assassino apontou o revólver, enquanto a mulher gritava, “para com isso, vamos embora”. Ele deixou o local em seguida, prometendo voltar: “Eu vou voltar e matar todos vocês, seus desgraçados”. Marcelo foi até seu carro e pegou seu revólver funcional. A festa prosseguiu por mais 20 minutos até que o bolsonarista voltou e invadiu o local de arma em punho e atingiu Marcelo Arruda.

As autoridades de segurança pública precisam apurar com rigor os crimes cometidos e tomar medidas efetivas de prevenção e combate à violência política. Por sua vez, o Congresso Nacional, o Tribunal Superior Eleitoral, o Ministério Público Federal, o Supremo Tribunal Federal e a Polícia Federal têm que pactuar providências que garantam a democracia e a paz no território nacional nas eleições no Brasil, em cujo contexto se antevê crescentes ataques e violações da liberdade de pensamento e de expressão, que tendem a se agravar.

A polarização das eleições alcançou tensão insuportável. A “guerra do bem contra o mal”, incitada tanto por bolsonaristas quanto por lulistas, está levando o país ao abismo da guerra civil. Em 1º de setembro de 2018 o então candidato a presidente Jair Messias Bolsonaro afirmou “vamos fuzilar a petralhada” em evento de campanha em Rio Branco (AC). Para deixar claro que não era metáfora, ele pegou o tripé de uma câmera e simulou disparar uma metralhadora. Por sua vez, Lula agradeceu, durante ato em Diadema, na Grande São Paulo, ao ex-vereador Manoel Eduardo Marinho, o Maninho do PT, preso em maio de 2018 após agredir um manifestante na porta do Instituto Lula, na capital paulista. “Esse companheiro Maninho, por me defender, ficou preso sete meses, porque resolveu não permitir que um cara ficasse me xingando na porta do Instituto (Lula)”. Maninho foi denunciado por tentativa de homicídio. Ele empurrou o empresário Carlos Alberto Bettoni contra um caminhão no dia em que o então juiz Sergio Moro decretou a prisão de Lula. Bettoni bateu a cabeça no para-choque do veículo e teve traumatismo craniano. De lá para cá tudo só piorou. 

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1 Comentário

  1. São o resultado da grande estupidez humana.

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