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Na tarde de hoje, o dia em que várias igrejas cristãs ao redor do mundo celebram aqueles que já não estão entre nós – no Brasil é o Dia de Finados, na Inglaterra é o All Soul´s Day (“Dia de Todas as Almas”) – foi lançada ao público Now and Then, a última canção dos Beatles. O documentário curta-metragem Now and Then – The Last Beatles Song, disponível no Youtube desde ontem, conta que em 1994, Yoko Ono deu a Paul McCartney algumas gravações inéditas de John Lennon, feitas em 1978. Deste material saiu Free As a Bird e Real Love, que todo beatlemaníaco empedernido (principalmente aqueles do Pará, ouvintes do Edgar Augusto na Feira do Som) sabem que foram lançadas na The Beatles Anthology e a ideia original de Paul, George e Ringo era que Now and Then também entrasse na coletânea, porém a tecnologia da época não era avançada o suficiente para tratar o material gravado de forma bastante rudimentar no apartamento edifício Dakota, em Nova York, em que John, Yoko e o filho dos dois, Sean, viviam.

Pois bem, durante a gravação de Get Back (se vocês comeram bola, leiam aqui a crônica deliciosa que o Edyr Augusto escreveu sobre a série documental em sua coluna), Peter Jackson fez um trabalho criterioso de restauração e aprimoramento dos arquivos de áudio e vídeo usando AI (Inteligência Artificial), mais especificamente o Machine Learning, que é uma área que se concentra no desenvolvimento de algoritmos e modelos computacionais capazes de aprender e tomar decisões autonomamente a partir de dados. Ao contrário dos programas tradicionais, os Machine Learning têm a capacidade de analisar grandes conjuntos de dados e identificar padrões, por exemplo. No caso, foi capaz de separar a voz de John do piano, o principal obstáculo para o uso da gravação, e possibilitar que Paul e Ringo interagissem musicalmente com o material, adicionando ainda um solo de guitarra de George – que faleceu em 2001 – gravado na tentativa frustrada de 1995.

O uso de AI no campo artístico é uma polêmica muito grande. Por causa do Machine Learning é possível que um computador crie músicas aos moldes de qualquer compositor, tornando possível que um bom programador apresente músicas “ao estilo” de Mozart, de Bach, por exemplo. Também é possível ensinar para um sistema o estilo artístico pessoal, por exemplo, e fazer com que ele desenvolva as composições. O uso da tecnologia para criações artísticas é um campo em exponencial crescimento e há muita pesquisa científica em torno disso, por sinal.

Há pouco tempo, inclusive, o uso de AI para possibilitar o dueto musical inédito entre Maria Rita e sua mãe, Elis Regina, numa publicidade de carro, virou um grande debate nacional no Brasil sobre a questão ética de usar a imagem de uma pessoa que já morreu. Lembro que li, na época, que Madonna já teria escrito em seu testamento que proíbe este tipo de prática post mortem. Acredito que Elis, que morreu em 1982, nunca tenha sequer refletido sobre este assunto e que, se alguém tinha o direito de fazê-lo era justamente a sua filha – e ninguém têm o direito de questioná-la, na minha opinião. No curta sobre Now and Then, Sean Lennon e McCartney fazem questão de afirmar que têm certeza de que esta seria a vontade de John. Eu, beatlemaníaca, agradeço. Num dia 2 de novembro chuvoso, em 2023, escutei em meu sofá a última música dos Beatles. 

Escute Now And Then aqui:

Veja o documentário sobre Now And Then:

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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