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Batizada de sagui-de-Schneider (Mico schneideri), em homenagem ao pesquisador brasileiro Horácio Schneider (1948-2018), geneticista da Universidade Federal do Pará e pioneiro da filogenética molecular de primatas, a descoberta alvoroçou a comunidade científica internacional. A nova espécie de sagui amazônico do gênero Mico, de pequeno porte (em torno de 50 centímetros), de pelagem prateada, com algumas partes em tons de aço, laranja e dourado, endêmica da área mais intensivamente desmatada da Amazônia, foi apresentada ao mundo por cientistas de instituições brasileiras, americanas e britânica, utilizando novos dados morfológicos, filogenômicos e de distribuição geográfica.

Região que detém a maior diversidade de primatas do planeta, com 146 espécies e subespécies identificadas, o que representa 20% da diversidade de primatas na Terra, a Amazônia ainda tem muito a descobrir, identificar, classificar e catalogar na fauna e na flora, e faltam muitos estudos para esclarecer a evolução, distribuição e ecologia das espécies.

Indivíduos da espécie do sagui-de-Schneider já são conhecidos por pesquisadores desde 1995, com exemplares coletados e conservados para fins científicos na Coleção de Mastozoologia do Museu Emílio Goeldi – a mastozoologia é a parte da zoologia que estuda os mamíferos e na coleção do Museu Goeldi, a maior coleção de mamíferos amazônicos no mundo, existem mais de 45 mil registros.

Contudo, os exemplares de 1995 tinham sido identificados como Mico emiliae, descrito pela ciência desde 1920 mas também ainda pouquíssimo estudado. Os animais das duas espécies apresentam algumas características semelhantes, o que confundiu pesquisadores por décadas.

Um grande esforço científico e cruzamento de diferentes dados dirimiu a dúvida. Ao longo de quatro anos, entre 2015 e 2018, Rodrigo Costa Araújo viajou à região entre os rios Juruena e Teles Pires, no Mato Grosso, percorreu trilhas a pé, se deslocou por cursos d’água de barco, até mesmo usando caixas de som para reproduzir gravações de uma outra espécie de sagui a fim de estimular a aproximação de saguis que estivessem por perto.

Ao final, as informações coletadas foram revisadas e comparadas com dados de pesquisas anteriores. As novas informações incluíram desde registro e medição de características morfológicas (como cor da pelagem), até análises de DNA e registros de campo sobre a distribuição dos saguis. Só então foi possível anunciar a nova espécie.

Todos esses resultados foram publicados em agosto de 2021, em artigo na revista Scientific Reports, do grupo Nature, indicando que a espécie é exclusiva do Estado do Mato Grosso e está restrita à região entre os rios Juruena e Teles Pires. É preciso aprofundar as pesquisas para saber o quanto o sagui-de-Schneider está ameaçado de extinção e se ele se distribui mais ao Sul, além das áreas investigadas pelos cientistas.

Essas informações são fundamentais para o desenvolvimento de futuras ações de conservação, já que a região faz parte do chamado arco do desmatamento, área marcada pela intensa mudança no uso da terra nas últimas três décadas, quando as florestas foram substituídas por áreas de pastagem e outras atividades humanas. É um território que se estende do oeste do Maranhão, abrange leste e sul do Pará, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre.

Nessa ampla região do arco já foram identificadas 52 espécies diferentes de primatas, das quais 42% estão ameaçadas de extinção, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza. Nesse contexto, os estudos que trazem mais informações sobre os animais e seus habitats são cruciais para garantir sua sobrevivência e preservação.

A descrição do sagui-de-Schneider é um dos resultados da tese de doutorado do pesquisador Rodrigo Costa-Araújo – Macroecologia de saguis da América do Sul (Primates: Callitrichidae) – defendida em 2020 em pós-graduação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e Universidade Federal do Amazonas, orientada pelos pesquisadores Tomas Hrbek e Izeni Farias. A pesquisa contou com diferentes apoios e financiamento do CNPq, da CAPES, da FAPESP, da FAPEMAT, da FAPEAM, do Conservation Leadership Programme e de outras instituições internacionais.

No artigo, os especialistas também esclarecem a distribuição, as relações evolutivas e morfológicas de quatro outras espécies de sagui do gênero Mico, animais cuja conservação é dificultada por serem pouco conhecidos da ciência. A descoberta foi liderada por Rodrigo Costa-Araújo, atualmente pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi, e contou com a parceria de José de Sousa e Silva Jr, curador da Coleção de Mastozoologia do Goeldi. O artigo científico que apresenta o sagui-de-Schneider também é assinado por uma forte equipe de especialistas da Universidade Federal do Amazonas, Universidade Federal do Mato Grosso, Universidade Federal de Viçosa, Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Universidade Federal do Pará, University of Salford (GBR), Trinity University e Stony Brook Uniersity (EUA). Leia o artigo na íntegra.

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