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Ao instalar o Poder Legislativo para 2016/2017 neste 20 de julho, em que a Colômbia celebra a Independência em relação à Coroa Espanhola, em 1810, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, fez um discurso curto, forte e inspirado, pregando a paz, que rendeu demorados aplausos de todo o Congresso em pé. Santos e o líder das Farc, Rodrigo Lodoño, o “Timoshenko”, assinaram em Havana, em 23 de junho, um cessar-fogo bilateral histórico, marcando o fim de meio século de confronto armado.
Mas há grupos dissidentes que relutam em relação ao acordo de paz. As Forças Armadas da Colômbia e guerrilheiros das Farc já se enfrentaram de novo. Mesmo com as escaramuças, iniciaram um programa piloto de substituição voluntária do cultivo ilícito de folha de coca na cidade de Briceño, no Departamento de Antioquia, pelo qual os rebeldes assumem a responsabilidade de erradicar essas plantações. Trata-se de ponto fundamental na mesa de negociação referente à luta conjunta contra o narcotráfico, para pôr fim à guerrilha que dura cinco décadas. Só para se ter uma ideia, nesse município, a 365 Km a noroeste de Bogotá, cerca de 95% da população rural (de 6,2 mil pessoas) se dedicam ao plantio e à produção de coca. 

De acordo com a ONU, a Colômbia é o maior produtor de cocaína do mundo. Nos últimos dois anos, a área plantada com coca duplicou no país.
A guerra interna já deixou mais de 300 mil mortos, quase 7 milhões de desabrigados e pelo menos 45 mil desaparecidos. O plebiscito para selar a paz em definitivo foi aprovado pela Corte Constitucional e agora a proposta será enviada para o Senado e para a Câmara. O último plebiscito realizado na Colômbia foi em 1957, há quase 60 anos. O Congresso terá que aprovar uma profunda reforma política e tributária, para – vejam só! – gerar empregos e reduzir a pobreza (isto lembra algum País vizinho?) 

O Brasil também precisa seguir o mesmo caminho. Pode dispensar discursos presidenciais grandiloquentes e momentos emocionantes no Congresso. O que o País precisa é de um Legislativo responsável e comprometido com a justiça e a paz social, livre da corrupção e da impunidade, capaz de pensar estrategicamente e de agir com coerência, de modo a garantir os direitos da população. 

A violência é um problema medonho. Mata-se mais no Brasil do que nas doze maiores zonas de guerra do mundo. Os dados são da Anistia Internacional e levam em conta países como Iraque, Sudão e Afeganistão. 

A cada 24 horas, 29 crianças e adolescentes entre 1 e 19 anos de idade são assassinados no Brasil, uma sala de aula inteira morta por dia. Por ano, a hecatombe chega a 10.520 vítimas fatais. No período de 1980 a 2013 este número cresceu 475%, e segue em tendência de alta. Se analisada a taxa de homicídios por 100.000 habitantes, o aumento foi de 426%, de 3,1 para 16,3. A ONU considera como epidêmicas taxas acima de 10. Comparado com outros 85 países, o Brasil fica em 3º lugar no ranking de homicídios de crianças e adolescentes, atrás apenas de México e El Salvador, nações que enfrentam sérios problemas de disputa de gangues e cartéis de drogas.
Os dados estão no relatório Violência Letal contra as Crianças e Adolescentes do Brasil, elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e divulgado em 30 de junho deste ano. 

O relatório também traz informações sombrias sobre a epidemia de suicídios de crianças e adolescentes indígenas. Os municípios que aparecem nos primeiros lugares nas listas de mortalidade suicida “são locais de amplo assentamento de comunidades indígenas, como São Gabriel da Cachoeira, Benjamin Constant e Tabatinga, no Amazonas, e Amambai e Dourados, no Mato Grosso do Sul”. Neles, do total de suicídios indígenas, os na faixa de 10 a 19 anos representam entre 33,3%, em São Gabriel da Cachoeira, e 100%, em Tacuru (MS), “uma verdadeira situação pandêmica de suicídios de jovens indígenas”.

Precisamos também urgentemente de paz. A sociedade não pode ficar muda e queda perante essa guerra não declarada que dizima a população e impede o exercício da cidadania. 
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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