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Muitos cristãos conservadores – incluindo a Conferência dos Bispos Católicos da França, que descreveu como “cenas de escárnio e zombaria ao Cristianismo” – esbravejaram indignação e consideraram uma grande ofensa a performance da DJ Barbara Butch ao lado de um grande grupo de drag queens, incluindo Nicky Doll, apresentador do programa Drag Race França, durante a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, por associarem o tableau à icônica pintura “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci.

Pois bem, parece que tanto barulho dos que se declararam ofendidos foi fruto de um repertório, digamos, limitado da história da arte. O Museu Magnin, que fica em Dijon, na França, perguntou no X: “Essa pintura te lembra algo?”, convidando as pessoas a irem conhecer “A Festa dos Deuses”, quadro do artista neerlandês Jan van Bijlert que faz parte de seu acervo.

O historiador de arte holandês Walther Schoonenberg também usou o X para esclarecer o assunto: “Na #CerimôniaDeAbertura de #Paris2024 foi exibido um tableau vivant (uma pintura viva) de ‘A Festa dos Deuses’ de Jan van Bijlert, de 1635 (conservado no museu em Dijon). Apolo, o Deus do Sol, é reconhecível pela auréola, e Baco pelas uvas em sua cabeça.entre 1635 e 1640”.

Thomas Jolly, diretor artístico das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024, alegou que a inspiração não veio de “A Última Ceia”, mas sim do banquete de Dionísio, o deus das festas e pai de Sequana, a deusa do rio Sena – justamente sobre o qual a cena aconteceu. Dionísio foi interpretado pelo cantor e compositor Philippe Katerine, enquanto Sequana, em cena posterior, foi representada por Floriane Issert, uma oficial da Gendarmerie nationale. Em entrevista à Associated Press, Jolly defendeu que a intenção era representar “o direito de amar uns aos outros, como quisermos e com quem quisermos”. Ele enfatizou que não tinha a intenção de ser subversivo ou ofensivo, mas sim de enviar uma mensagem de amor e inclusão. A conta oficial dos Jogos Olímpicos no X publicou fotos da performance afirmando que “a interpretação do Deus Grego Dionísio nos faz perceber a absurdidade da violência entre os seres humanos”.

Na pintura de Jan van Bijlert, os deuses gregos são retratados em um banquete no Monte Olimpo. Schoonenberg, na sequência da primeira postagem, explicou que “Os (pagãos) Deuses se reuniram no Olimpo para um banquete. Apolo é reconhecível pela auréola do sol, Baco (Dionísio) pelas uvas, Netuno (Poseidon) por seu tridente, Diana (Ártemis) pela lua, Vênus (Afrodite) por Cupido.” E concluiu: “Portanto, não há como os cristãos terem sido insultados neste tableau vivant. É preferível dizerem que os deuses pagãos foram insultados porque o frequentemente um tanto efeminado Apolo foi retratado como uma mulher gorda”.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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