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A demanda nos consultórios de psicanálise em razão do sintoma disfunção erétil é cada vez mais comum. Entretanto, para a psicanalise não é o sintoma que deve ser evidenciado, e sim aquilo que o sustenta, isto é, a dinâmica psíquica que está por trás e da qual só é possível observar suas manifestações. Em outras palavras, a realidade psiquica do sujeito – aquilo que ele entende como verdade – é o que determinará sua realidade objetiva, que no caso vem travestida no sintoma disfunção erétil. Vale lembrar aqui que me refiro às causas psicogênicas, pois existem casos que são de natureza orgânica.

A primeira abordagem psicanalítica sobre a disfunção erétil masculina, remeteu sua origem à sexualidade infantil, decorrente de processos psíquicos inconscientes, com conteúdos definidos, relacionados a um desejo sexual da primeira infância e depois recalcados como forma de aplacar o conflito entre o desejo inconsciente de vivenciar novamente versus o conflito psíquico que a satisfação geraria. Seria, então, uma fixação incestuosa a principal causa da impotência sexual. Mas, também considerava que experiências sexuais infantis vividas de forma muito humilhantes poderiam desencadear, mais tarde, uma inibição psicossexual. Exemplo disso é a criança quando flagrada se masturbando sofrer castigos físicos ou ameaças devido à rigidez dos pais.

As estatísticas comprovam que na maioria dos casos de disfunção erétil os fatores psíquicos são as causas primárias na formação dos sintomas. É muito interessante a forma como isso se dá. O sintoma constrói uma metáfora ao substituir um significante que havia sido recalcado, por um novo significante. Assim, o sintoma, que toma o lugar do novo significante, mantém essa relação através da associação com o antigo significante, tomando-lhe o lugar e dificultando a identificação do significante original. Vemos, então, que o sintoma está articulado a uma verdade inconsciente que se expressa metaforicamente. Por isso, ao decifrar o segredo do sintoma, o sujeito consegue recuperar suas lembranças e reconstruir sua história.

Freud dizia que a impotência psíquica era uma das manifestações da ansiedade, decorrente de um acontecimento traumático que havia causado uma inibição na história do desenvolvimento da libido, antes da formação desta. Podemos ver essa inibição com nitidez ao observamos indivíduos organicamente saudáveis, com propensão psíquica de concretizar o ato sexual e, no entanto, há uma recusa dos órgãos sexuais. O pai da psicanálise se refere à falha na combinação das correntes afetiva e sensual, que regulam o comportamento amoroso.

O sintoma disfunção erétil gera muito embaraço porque está diretamente ligado ao que se entende por masculinidade. Isso porque o conceito de masculinidade se utiliza da imagem do pênis ereto como um estandarte da potência fálica. Em razão dessa construção, quando o órgão é afetado por uma disfunção erétil, a masculinidade do sujeito é profundamente afetada, colocando-o numa posição de fracasso. Daí dizermos que o sintoma passa a definir o sujeito, e esse acaba taxando a si próprio de impotente, fraco, incapaz.

As disfunções masculinas mais frequentes, são: as que o sujeito não consegue manter o pênis ereto; as de sustentação abreviada durante o coito e as de ejaculação precoce. As primeiras têm estrutura de inibição diante da possibilidade de consumação do coito, o que causa um estado terrível de angústia pelo terror de ser colocado em contato com a castração. As outras também podem estar ligadas à castração, porém, com uma estrutura onanistica na qual o sujeito não consegue incluir o outro na fantasia, não estando o prazer, portanto, ligado ao outro. Pode-se considerar um gozo solitário, masturbatório.

Quanto as causas da impotência, também são diversas. Existem as ligadas a eventos traumáticos; as relacionadas ao excessivo ideal narcísico; as em razão do alto consumo de pornografia; as que surgem da excessiva intimidade, com o decorrer do tempo de relacionamento; as decorrentes da sexualidade homossexual recalcada, que emergem face a recusa pelo sujeito de assumir sua sexualidade; e outras mais que poderíamos enumerar.

Apesar de ainda ser tabu no universo masculino e dos fatores psicogênicos que determinam as causas do sintoma da disfunção erétil serem vários, os resultados obtidos na clínica psicanalítica são promissores. Decifrar a metáfora construída pelo sintoma é a saída para entender o arranjo psíquico tecido pelo sujeito.

France Florenzano
France Florenzano é psicanalista, pós-graduada em Suicidologia pela Universidade de São Caetano do Sul. Whatsapp: (091)99111-5350 Instagram: psifranceflorenzano

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