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Estava conversando com amigos na Livraria Fox, quando me disseram que a professora Marcella Castro lá estava com alguns alunos de seu curso de Redação. Fui saudá-la pelo excelente trabalho que realiza junto a jovens estudantes. Estavam recebendo o jovem e bom autor Hugo Tavares com seu livro mais recente. Pensei na felicidade desses jovens naquele momento. Criança, eu já começara a ler a coleção “Capa & Espada” da biblioteca de meu avô, quando na pré adolescência o professor Edson Berbary apresentou como atividade a leitura de clássicos da Literatura Brasileira. A mim coube “Menino de Engenho”, de José Lins do Rêgo, que me conquistou, mais ainda porque meu avô emprestou seu livro, com dedicatória do autor. Fui adiante e li “Fogo Morto” e “Banguê”, da trilogia e nunca mais parei. Passou muito tempo, o mundo mudou muito e hoje a luta é pela recuperação de leitores, a partir de livros infantis. Acho importante mas, sem nenhum preparo intelectual para discutir com especialistas, considero a melhor idéia, apresentar aos jovens livros que falem da atualidade, com sua linguagem e situações, de forma a se identificarem com os temas. Foi isso que encontrei na Sala Clarice Lispector, da Livraria Fox, com os alunos da professora Marcella. Hugo Tavares escreve fácil, mostrava seu livro que tem Belém como tema atualíssimo e pode perfeitamente cutucar a imaginação dessa faixa etária que hoje prefere assistir ao que lhes apresenta a mídia, sem espaço para a criação pessoal, sendo cúmplice do autor, através dos livros. Vou ao cinema e assisto ao que o diretor e montador quiseram que eu assistisse. Lendo um livro, sou cúmplice do autor porque ao ler, crio rostos, personagens, vozes, cenários e emoções, puxando de meu formidável arsenal de imagens que qualquer jovem já tem. Isso ocorreu pela manhã e à tarde, jogando ou tentando jogar na pelada com amigos, havia ao lado uma espécie de competição para jogos de vôlei e frescovôlei (não sei se esse é o nome), disputado ferrenhamente por muitos jovens que vibravam a cada ponto conquistado de um lado e outro. Como meu preparo físico já é praticamente inexistente, pedi para sair e no caminho do vestiário, passei entre jogadores e torcida, todos muito jovens. Como é linda a juventude! Meninos e meninas, namorados, naquela idade monumentalmente linda. Meninas louras, morenas, ouvi suas vozes jovens e admirei por alguns segundos. Quanta gente linda. Mas depois, segui em frente já pensando no preparo intelectual deles, acho que todos em bons colégios particulares, baratos, caros ou públicos, com professores, armados de giz e um quadro, enfrentando os vários gadgets portados pelos alunos, com highlights de noticiário, importantes ou não, bips e outros ruídos da modernidade, em um duelo injusto. Como competir? Temos uns 30 anos ou mais de ausência ideal de Educação e Cultura no Brasil e os resultados são evidentes, na falta de compromisso político com argumentação, educação ambiental e educação no nosso convívio. Falta-nos tudo, estamos atrasados em relação a outros países e diante de uma nova revolução que desempregará quem não tiver aptidão para computadores e outras máquinas automáticas de serviços hoje manuais. Talvez sejam médicos, advogados, engenheiros, sei lá, talvez excelentes em sua profissão em si, mas sem opinião política, sem saber conviver com outros, sobretudo contrários, presas fáceis para idéias ralas mas cativantes, se não há opinião para contra argumentar. E muitos de nós estão partindo, como Arthur Xexéo, jornalista que me influenciou, me informou e me formou como cidadão e que se foi no final de semana passado. Deixou preciosos conselhos e sobretudo uma postura elegante, inteligente e justa. Quem ocupará seu lugar para informar e formar novos cidadãos? 

*O artigo acima é de total responsabilidade do autor.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte.

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