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Para começar a primeira segunda-feira de 2025 com lágrimas de felicidade: a grande vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro, como Melhor Atriz, por sua atuação de Eunice Paiva em “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, seguida da reação da sua mãe – a estrela-maior do cinema brasileiro – Fernanda Montenegro, que há 25 anos subia no palco da mesma premiação para receber a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro para “Central do Brasil”, também de Walter Salles. Na ocasião, porém, teve sua atuação histórica preterida e não venceu a categoria de Melhor Atriz. Aos 95 anos, aparece em “Ainda Estou Aqui” como uma versão mais velha do papel que tem rendido tantos louros à filha.

Em seu discurso, Fernanda Torres, que dedicou o prêmio à mãe, comentou: “Ela esteve aqui 25 anos atrás e isso é uma prova de que a arte pode perdurar através da vida, mesmo em momentos difíceis como este.” Ela enfatizou que “Ainda Estou Aqui” é um filme que encoraja o público a refletir sobre como sobreviver em face aos desafios da vida.

Fernanda Torres foi indicada ao lado de grandes nomes de Hollywood, incluindo Pamela Anderson por “The Last Showgirl”, Angelina Jolie por “Maria”, Nicole Kidman por “Babygirl”, Tilda Swinton por “The Room Next Door” e Kate Winslet por “Lee”. Com uma concorrência tão estrelada, é compreensível que até ela, que tem lutado como uma leoa pelo filme e contra as barreiras corporativistas estadunidenses, considerasse sua vitória inesperada.

Apesar de ser um momento emocionante e muito feliz, o reconhecimento é ainda o mínimo diante de sua grandiosidade. O prêmio de Melhor Atriz é, como é óbvio, pessoal, porém o manto que a atriz de 59 anos carrega é extremamente longo e pesado, com nomes de tantas outras grandes artistas do Sul Global apagadas das grandes premiações internacionais. Seu talento é inquestionável, mas foi necessário uma longa estrada ser pavimentada por tantas outras que vieram antes. Fernanda Torres faz questão de deixar isto bem claro, tirando ela mesma uma grande pedra do caminho para as muitas outras que, como esperamos, virão.

“Ainda Estou Aqui” estreou no Festival de Cinema de Veneza, onde foi ovacionado e ganhou o prêmio de Melhor Roteiro. Desde então, foi reconhecido como um dos cinco melhores filmes internacionais pelo National Board of Review e recebeu uma indicação para Melhor Filme Estrangeiro no Globo de Ouro. Além disso, foi selecionado como a entrada do Brasil para o Oscar na categoria de Melhor Filme Internacional.

Embora Torres não tenha discorrido sobre sua menção a “tempos difíceis” durante seu discurso, os temas do filme ressoam fortemente no clima político atual, como a insurreição de 8 de janeiro de 2023 no Brasil e a de 6 de janeiro de 2021 nos EUA, quando em ambos os países os apoiadores dos políticos de direita Jair Bolsonaro e Donald Trump invadiram prédios governamentais com base em falsas alegações de fraude eleitoral.

O diretor Walter Salles refletiu sobre a relevância do filme, afirmando: “Começamos este projeto pensando que estávamos recontando uma história do passado, mas percebemos que também era uma reflexão sobre nosso presente. Precisamos nos lembrar do que aconteceu. O cinema pode ser um instrumento poderoso para combater essas forças — para nos ajudar a evitar o esquecimento. Um país sem memória é um país sem futuro.”

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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