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Sou fã dos Rolling Stones desde os meus oito, nove anos de idade. Sim, meu irmão tinha os discos, na mesma vibe dos Beatles. Enquanto os de Liverpool eram arrumadinhos, paletó e gravata, os Stones eram os sujinhos, rebeldes, tudo inventado pelo empresário Andrew Oldham, golpe de marketing. No início, Brian Jones era o líder, mas à medida em que foi corroído pelas drogas, Jagger e Richards assumiram a liderança. Rony Sanchez, um porra louca tipo faz tudo, se juntou ao grupo, seja como amigo, seja como o cara que arranjava as drogas. Acompanhou a banda até o final dos anos 70, creio, quando os Stones já era a maior banda de rock do mundo. Achou que tinha muito o que contar e lançou este livro, que somente agora sai no Brasil, com o título chamativo. É necessário dizer que entre os esfuziantes “sixties” e “seventies”, havia uma revolução de costumes, por parte dos jovens nascidos no pós Segunda Guerra. As drogas começaram como recreativas, pesquisas sobre efeitos na mente, curiosidade, mas alguns perderam a vida, carreira e outros, espantosamente continuam até hoje, embora em algum momento tenham largado o vício, preferindo viver. Nós, pessoas comuns, jovens, muito jovens, achávamos “o máximo” saber que Jagger ou Richards sofreram uma batida da Polícia em suas casas, que foram levados à côrte, eram fotografados em plena bebedeira. Parecia que eles eram rebeldes por nós todos. Infelizmente, eles eram junkies que desperdiçaram montanhas de dinheiro para estragar seus corpos e mentes. Hendrix, Morrison, Joplin, tantos, partiram muito cedo. Sandrez, apelidado de “Spaniard”, estava em todas. Mais amigo de Keith Richards, conta, desde o começo, a derrocada de Brian, a destruição e renascimento de Marianne Faithfull, a perdição de Anita Pallemberg, todas ligadas tanto a Jagger quanto a Richards, pulando de galho em galho. Eram também inteligentes e instigantes. O consumo era industrial, repetindo várias internações sem êxito. Keith chegou a fazer transfusão de sangue total por três vezes, tirando a heroína de suas veias, para continuar vivendo. Havia filhos em volta e em um episódio na França, enquanto gravavam “Exile on Main Street”, uma criança, filha de amigos, recebeu herô nas veias, um escândalo abafado. Brian se foi, Mick Taylor, o substituto, chegou limpo e saiu para continuar sua vida que estava se esvaindo nas drogas. Veio Bianca Jagger, alma gêmea de Mick, cujo casamento efêmero causou manchetes. E a droga seguia como nuvem negra, não branca, poupando apenas Charlie Watts e Bill Wyman. Para equilibrar, chegou Ron Wood, dupla perfeita com Keith. Mick assumiu as economias do conjunto e ficaram bilionários. Deixaram pelo caminho gente desavisada que queria um pouquinho e não aguentou, amigos brilhantes, sem trocadilho, e os Glimmer Twins seguindo. Jerry Hall domou Mick Jagger, Patti Hansen domou Keith Richards. Preferiram viver, como Ronnie Wood. Livraram-se do Spaniard, que já não servia para nada, esquecendo as tantas vezes em que, arriscou-se gravemente para levar cocaína e heroína para eles. Muito do que está aqui saiu em biografias da dupla, mas outras, que eles tentaram evitar constar na publicação, estão neste livro, com todas as letras. Se possível, deixando de lado tantos exemplos péssimos de ídolos, os caras conseguiram se manter em um mercado disputadíssimo, com quem chegou pela frente. E ainda fazem shows, ganham milhões, todos com mais de oitenta anos, o que de alguma maneira parece também lamentável para as gerações seguintes, que não os superaram. Junkies de oitenta anos em plena atividade.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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