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Padre Giovanni Gallo está feliz no céu, disse a cientista Ima Vieira, PhD em Ecologia, ex-diretora-geral do Museu Paraense Emílio Goeldi e vice-presidente do Museu do Marajó na época em que foi idealizado e criado pelo religioso que fez história entre o povo marajoara. Quando Gallo morreu, em 2003, coube a ela a responsabilidade de dirigir o Museu. Sua primeira decisão, amparada pela irmã do Padre, Maria, foi enterrar seu corpo em terreno do próprio Museu, em Cachoeira do Arari, como ele havia pedido. Mas não tinha dinheiro. Ima não titubeou: foi ao gabinete do então prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, que prontamente ajudou no traslado do corpo, de avião. Ontem, 3, de novo prefeito de Belém, Edmilson, emocionado, estava presente na inauguração da reforma do Museu, integrando a comitiva do governador Helder Barbalho.

O resgate do complexo cultural enseja a lembrança da turma que abraçou o Museu do Marajó quando Giovanni Gallo morreu. Amigos queridos que o acompanharam a vida toda: Antonio Smith, falecido em 2020, foi seu fiel escudeiro e depois presidente do Museu. Abertinho Leão, também ex-presidente, foi fundamental para essa transição. Seu Eli, o eterno vice-presidente. Professora Irene, a sábia educadora. Lino, primo distante de Dalcídio Jurandir, e muitos outros, como Otacir Gemaque, o Seu Tacica, que agora preside o Museu, e Dona Zezé Gama, que está na diretoria atual.

O grande jornalista e escritor marajoara Dalcídio Jurandir, o Romancista do Século, em carta a Maria de Belém Menezes (irmã de Bruno de Menezes), assim escreveu sobre o Padre Gallo: “Que qualidade de sábio e repórter! O povo, os bichos, as águas sabem conviver com ele. O padre enfrenta a realidade, não simplifica. Tem uma dose de compreensão da mais alta. Lendo-o fico com as minhas raízes marajoaras estremecendo. Que o padre tire uma coleção de reportagens e faça um livro que será retrato da terra e da gente de Jenipapo.” Os marajoaras pedem e aguardam o restauro da Casa de Dalcídio Jurandir, para que funcione como extensão do Museu do Marajó. O governador Helder Barbalho ainda não se pronunciou.

Inaugurado em 1977 pelo Padre Giovani Gallo, o Museu do Marajó estava interditado desde 2018 por conta da estrutura deteriorada do prédio, que comprometia a segurança dos visitantes. Ao entregar a reforma completa do prédio, o governador Helder Barbalho garantiu que já existe plano da Secretaria de Turismo para divulgação integrada do complexo em Cachoeira do Arari no turismo do arquipélago marajoara. “Com este museu, Cachoeira entra na rota e, claro, impulsiona e estimula a iniciativa privada a investir na rede hoteleira, para que restaurantes possam abrir, com suporte do Sebrae e incentivo à mão de obra local”, declarou. Presente ao evento, o secretário de Estado de Turismo, André Dias, contou em entrevista exclusiva ao Portal Uruá-Tapera que o Museu do Marajó e a Casa do Padre Giovanni Galo estão em um pacote que inclui as manifestações culturais como a Festa do Glorioso São Sebastião, o Cordão do Galo, a Rota de Gastronomia (queijos, açaí, turu, frito do vaqueiro, caranguejo e outros produtos) e demais atrações turísticas da região, como os campos alagados, os búfalos e as praias paradisíacas.

A cerimônia contou com a participação animada da comunidade. Dona Zezé Gama, diretora do Museu, disse: “Não tenho palavras para expressar a satisfação e a felicidade de conseguir ver o sonho do Padre Gallo realizado, porque há muito tempo ansiava esse apoio do governo para que a gente conseguisse essa reforma. Ver isso aqui hoje se concretizar é uma satisfação muito grande. A única palavra é gratidão ao governo do Estado por ter abraçado esse desafio. Com essa inauguração, espero ver outra parte do sonho realizado, que era de que o Museu pudesse servir de polo de desenvolvimento para o município”.

Armando Sobral, diretor do Sistema Integrado de Museus e Memórias, destacou o trabalho. “É uma satisfação muito grande, uma honra ter participado de um projeto como esse, de reintegração do Museu do Marajó. Foram dois anos de trabalho, desde 2020 com o arrolamento do acervo de milhares de peças que foram identificadas, que agora fazem parte de um sistema de dados que pertence ao Governo do Estado. Um Museu que está sendo reintegrado por esforço de toda essa equipe da Secult, do Sistema Integrado de Museus para que ele também se torne mais um espaço sistêmico aos outros que já existem no Estado, para que a gente possa daí aprofundar esse trabalho de consolidação de todos os aspectos que dizem respeito a um espaço de memória como esse, consolidar sua parte física, administrativa, pensar também o museu dentro de um modelo de sustentabilidade e o que é mais importante: um espaço que é uma mola de desenvolvimento social e econômico para a comunidade de Cachoeira do Arari e que também proporcionou a empregabilidade para essa comunidade”.

O projeto arquitetônico da reforma foi concebido pelo Departamento de Projetos da Secult após diversas escutas e participação ativa da comunidade. Ele é todo interativo e traz como conceito o diálogo entre a tradição e a contemporaneidade. Com área útil de 3.062m², o Museu do Marajó conta agora com um grande salão de exposições, remanescente do museu original, e novo acesso, através de hall de entrada voltado para a rua principal, lojinha do Museu, área administrativa, apoio técnico, a casa do Padre Gallo e varandas externas voltadas para o bosque do Museu, além de acesso coberto para a reserva técnica do complexo, um conjunto de banheiros públicos, circulação interna ajardinada, duas praças, uma que conecta o pavilhão principal do Museu à sepultura e à casa do padre Gallo, além da criada a partir da retirada dos muros do Museu ao longo da nova fachada principal.

O governador Helder Barbalho anunciou, na ocasião, a urbanização da orla da cidade, cujo projeto já está na Secretaria de Obras do Estado e deverá ser iniciado ainda neste ano, e a construção de uma ponte entre Cachoeira do Arari e Salvaterra, municípios cuja ligação é feita através de balsa. A Secretaria de Transportes vai elaborar o projeto. Dentro da agenda oficial do governo em Cachoeira do Arari, houve entrega simbólica de recursos do programa habitacional “Sua Casa” para 111 famílias em vulnerabilidade social.

A Imprensa Oficial do Estado doou 90 exemplares de livros publicados pela Editora Pública Dalcídio Jurandir ao Museu do Marajó. Entre as obras doadas figuram lançamentos, como “Pajé Zé Piranha: histórias de cura e encantaria no Marajó”, escrito por Max Silva do Espírito Santo e Ailton Silva Favacho; o livro “O Cheiro dos Homens”, de Marcos Samuel Costa, e a coletânea de poemas “Rio em Nós”, além de “Indicações Geográficas do Queijo do Marajó”, produção do Centro de Ciências Sociais e Educação da Uepa; e “Festividades do Glorioso São Sebastião na Região do Marajó”, da série intitulada Minha História, Nossa Cultura, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “Tivemos o cuidado de selecionar importantes obras já lançadas pela Imprensa Oficial, algumas relacionadas diretamente ao Marajó, para que os visitantes e moradores da região tenham acesso a tudo o que foi produzido sobre o arquipélago”, informou o presidente da Ioepa, Jorge Panzera, que assinou o termo de doação das obras no ato da inauguração.

A cerimônia também foi prestigiada pela primeira dama, Daniela Barbalho, o senador Jader Barbalho, a deputada federal Elcione Barbalho, o chefe da Casa Civil, Iran Lima; o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Zé Francisco; o secretário regional do Marajó, Jaime Barbosa; a secretária de Cultura Ursula Vidal, os prefeitos de Cachoeira do Arari, Antônio Bambueta; de Breves, Xarão Leão; de Soure, Guto Gouvêa; e de Bagre, Clebinho Rodrigues; e a prefeita de Ponta de Pedras, Consuelo Castro, entre outras autoridades e personalidades. A programação incluiu cortejo do tradicional Cordão do Gallo até o Ginásio Poliesportivo Manoel Xavier Barbosa.

Confiram as imagens e as entrevistas exclusivas com o governador Helder Barbalho, com o presidente do Museu do Marajó, Otacir Gemaque, o Seu Tacica, e o artista plástico Maré, ceramista marajoara.

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