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Douglas da Costa Rodrigues Junior, estudante de Letras – Língua Portuguesa da Universidade Federal do Pará e bolsista do Museu Paraense Emílio Goeldi, ganhou a 18ª edição do Prêmio Destaque na Iniciação Científica e Tecnológica na área de Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. Ele criou o projeto Dicionário Multimídia Sakurabiat – Português, desenvolvido sob a orientação da linguista Ana Vilacy Galúcio, pesquisadora da Coordenação de Ciências Humanas do MPEG.

O Dicionário reúne verbetes da língua indígena Sakurabiat em quatro campos semânticos: fauna, flora, partes do corpo humano e manufaturas. Douglas Júnior aceitou o desafio de contribuir para a dicionarização de uma língua ameaçada de perecimento, trabalho complexo que envolve muitas etapas.

Ana Vilacy, especialista no estudo da língua indígena Sakurabiat e coordenadora do projeto, explica que o dicionário multimídia “foi compilado como um documento interativo html, usando a linguagem Markdown – linguagem de formatação aberta, baseada em texto e que permite a fácil exportação dos materiais em html, PDF ou docx”. “Para cada entrada lexical, o dicionário apresenta o verbete em Sakurabiat e a chave de pronúncia em transcrição fonética, sua tradução para o português, áudio e imagem, além de exemplos de uso do verbete em Sakurabiat (sempre que possível), acompanhado de tradução e áudio com a pronúncia do exemplo.

Douglas Costa estudou os aspectos teóricos e metodológicos da organização de dicionários, pesquisou e coletou materiais lexicais da base de dados da língua Sakurabiat, disponível no Acervo de Línguas e Culturas indígenas do Museu Goeldi, separando-os em subconjuntos de dados, transcreveu e organizou os arquivos de áudio, organizou e converteu o material, além de ter feito a revisão e verificação do dicionário. Ele dá uma dica: é importante perseverar. E conta seu exemplo: conheceu a professora Vilacy e seus ensinamentos após ter fracassado em uma entrevista de estágio. Se tivesse desistido, perderia outra chance.

Os Sakurabiat habitam a Terra Indígena Rio Mequéns, no estado de Rondônia. Moram em áreas de floresta, geralmente perto de igarapés. São agricultores e têm animais de caça como base alimentar tradicional. Mesmo com sua população drasticamente reduzida, os Sakurabiat não deixam de lutar por seus costumes e cultura. Assim como a maioria dos povos indígenas brasileiros, eles têm em sua história a marca da exploração por colonizadores. Trabalharam por muito tempo no sistema de exploração da borracha, estiveram sob o jugo de várias madeireiras que invadiram seu território e lá montaram serrarias, apoiados por políticos locais. Conforme relatos dos anciãos da comunidade, o grupo também foi afetado por várias epidemias de doenças, como sarampo e gripe, provocando uma acelerada depopulação. 

   A terra indígena ocupada por esse povo originário desde tempos imemoriais  só foi demarcada em 1996, após longa batalha repleta de problemas e dores para os Sakurabiat, que foram acusados de serem eles os invasores da sua terra ancestral. Hoje em dia, tentam manter vivo aquilo que quase lhe roubaram: sua cultura, história e língua.

A língua Sakurabiat (Lê-se [sakirabi’at], com a 2ª vogal pronunciada de forma semelhante à vogal da 1ª sílaba da palavra Tânia, em Português) pertence ao tronco Tupi. As outras línguas dessa família são Wayoró, Akuntsú, Makurap e Tupari, todas faladas em Rondônia, por pequenos grupos.

Neste julho de 2021, a língua Sakurabiat conta com apenas 11 falantes fluentes. O dicionário bilíngue Sakurabiat – Português representa neste contexto gravíssimo um importante avanço para a revitalização dessa língua ameaçada de extinção, além de material de busca e apoio na aprendizagem de fácil acesso para as gerações mais jovens. No Brasil, há cerca de 155 línguas indígenas faladas, e dois terços delas são na região Amazônica, a maioria em situação de risco de desaparecimento.

A língua de um povo é sua principal forma de comunicação, através da qual a cultura de uma sociedade é transmitida. Trata-se de medida da maior importância preservar a diversidade de línguas e todo o sistema de linguagens dos povos originários da Amazônia. Pesquisadores do Museu Emilio Goeldi trabalham no desenvolvimento de seis dicionários multimídia de línguas indígenas, incluindo o Sakurabiat-Português. A previsão é de que a primeira versão esteja disponível ao público em janeiro de 2022, após ser referendado pelos Sakurabiat .

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