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“Louvável a iniciativa da Segup ao definir medidas de combate à criminalidade em Breves, Marajó. O conjunto de medidas na prevenção e combate à criminalidade foi compromisso da Segup no dia 14 deste mês diante do prefeito de Breves e do Poder Legislativo deste município, com a participação de representantes da PC e PM e presença de alguns deputados estaduais. 

Coordenada esta reunião pelo general Jeannot Jansen, o Secretário de Segurança Pública do Estado se comprometeu na implantação, em curto espaço de tempo, de uma base temporária operacional da Polícia Militar no Distrito do Curumu, interior do município. A Prefeitura disponibilizou uma embarcação, combustível e alimentação para a atuação dos policiais militares.

Dentre o conjunto de medidas de combate à criminalidade, esta é a mais importante e a única em que aparecem compromissos claros e de atuação, com responsabilidades distribuídas. Outras, como ações de policiamento ostensivo, lotações de unidade prisional, não mereciam a pena de uma reunião desse porte. 

É esta uma ação pontual que deve ser reconhecida com toda justiça, mas absolutamente incapaz de solucionar o problema. Nossas autoridades ainda não compreenderam que no Marajó problemáticas e soluções são diferenciadas e precisam de medidas específicas e realistas. Por exemplo, o problema da criminalidade e da segurança pública em Breves, interior e cidade e suas soluções, não são diferentes de Portel, Melgaço, Anajás… Os piratas, assaltantes e assassinos vão se deslocar do Curumu para Anajás e Afuá, onde a mesma situação de abandono por parte das autoridades do Estado, talvez agravada nesses municípios, assim como em todo Marajó e mais propriamente nas regiões das ilhas e do norte do arquipélago, faz inócua esta medida. 

É necessário libertar do pânico as beiras do Tajapuru, constatado repetidas vezes e de modo dramático: “De noite fechamos a porta de casa, vamos dormir e não sabemos se amanheceremos vivos”. “Desde as quatro da tarde não podemos sair de casa por medo a ser assaltados na rabeta ou depredados a casa!”. Este é o grito da maior parte da população deste imenso Marajó. Ações exclusivamente pontuais não dão conta do tamanho desta problemática gravíssima. 

Em nenhum dos municípios do Marajó existe lancha à disposição da polícia. Como se combate a criminalidade numa região como Marajó, identificada pelos rios grandes e menores, igarapés, lagoas, enfim, pela “ditadura da água” sem uma lancha sequer, sem combustível nem alimentação? ”Não temos voadeira!” é a exclamação de uma Polícia impotente e perdida na imensidão das águas do arquipélago.

O general Jeannot afirmava a partir das medidas aprovadas terça passada que “a gestão integrada facilita o combate à criminalidade” e que “as ações na área de segurança devem ser entendidas em forma conjunta”. Mas como os parceiros, desprovidos por completo de lanchas, combustível e homens (Segup, Prefeituras, Vereadores) vão agir em forma conjunta? O que poderão colocar em comum certamente é a falta absoluta dos meios para poder operar de um modo minimamente eficiente. Que tipo de parceria se pode estabelecer entre parceiros inabilitados todos por falta de recursos? Segundo a população do Rio Anapu, a Polícia de Melgaço não sai da cidade por menos de dois mil reais (R$ 2.000,00). 

É hora de iniciar a criação da base “Antonio Lemos” (região do Estreito de Breves). Base anunciada faz muito tempo e nunca efetivada, projeto estudado nesta reunião, mas que pelo que parece ninguém se compromete a realizar. Foi afirmado nesta reunião que existem entendimentos com o Iterpa para a cessão de terreno pertencente à União. Nada mais!!. 

A oficialização em 2015 e 2016 pela Polícia Civil em Breves de 68 Procedimentos relacionados a entorpecentes não mudou o mínimo na distribuição e consumo de droga na cidade. E o interior? E os outros municípios do Marajó flagelados todos pelo mesmo chicote dos narcotraficantes? Onde estão os Procedimentos relativos aos chefes e donos das drogas? A rede ainda serve somente para peixe pequeno… 

O Marajó de novo se sente frustrado e humilhado com soluções pontuais, parciais, inadequadas, portanto inócuas para responder à gravíssima problemática da segurança. Uma solução integral incluindo emprego, economia, sociedade, política, cultura, educação, índice de desenvolvimento humano, estudo contextualizado da presença das Polícias no arquipélago, promotores e juízes entram necessariamente como elementos essenciais para a prevenção e repressão ao crime. 

Mais uma vez o grito por um Marajó livre se faz cada dia mais denso e potente. O Plano de Desenvolvimento integral e sustentável aprovado pelo presidente Lula está já enterrado. 

À distância de 10 anos de sua aprovação, mudanças profundas, algumas com repercussão mais negativa ainda no tecido social do arquipélago, exigem com urgência um novo Plano; não para fazê-lo encalhar como o anterior, mas como evidência de respeito à cidadania de todos os marajoaras e à sua dignidade humana. Ressuscitar o morto que o PT enterrou não teria lógica. Sem dúvida o Projeto “Marajó, Território Federal” acabaria com a criminalidade; problemáticas e situações de base com soluções estruturais e não exclusivamente pontuais é do que o Marajó precisa com urgência. 

Soure, 17 de março de 2017 
Dom José Luis Azcona Hermoso
Bispo Emérito do Marajó”
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, presidente da Academia Paraense de Jornalismo, membro da Abrajet, do IHGP e do IHGTap, editora do portal Uruá-Tapera.

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