
Amanhã, às 9h, a Assembleia Legislativa do Pará realiza sessão solene em homenagem aos 117 anos do Instituto Histórico e Geográfico do Pará. A iniciativa é do deputado Carlos Bordalo (PT) e o presidente da Alepa, deputado Márcio Miranda, é autor de requerimento de aplausos ao IHGP, criado no dia 3 de maio de 1900 pelo então governador Paes de Carvalho ao lado de um grupo de intelectuais, dentre os quais se destacava Domingos Antônio Raiol. O acervo da vetusta instituição reúne obras bibliográficas, iconográficas e importante documentação manuscrita e impressa, datada do início do século XVIII, fundamental para os estudos sobre a história de Belém, seus aspectos políticos, sociais e culturais.
A consulta dos Livros de Sepultamento do Cemitério da Soledade, por exemplo, possibilita pesquisas sob o ponto de vista da história demográfica. Em 1944, o prefeito Alberto Engelhard doou ao IHGP do prédio Solar do Barão do Guajará, com os móveis da família e a biblioteca do barão. A edificação, uma joia da arquitetura, erguida no início do século XIX em estilo neoclássico, é também parte integrante do patrimônio histórico e arquitetônico de Belém, tombada em 1950 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
O IHGP é um ícone do apogeu econômico e social parauara, na belle époque. O Theatro da Paz havia sido inaugurado e grandes artistas chegavam à cidade trazendo suas obras. Belém era um grande centro de comercialização, havia uma riqueza fabulosa produzida pelo extrativismo da borracha, colocando a capital paraense em destaque internacional. Os costumes se transformavam, as festas de igreja passavam a grandes bailes e os filhos das famílias abastadas iam estudar na Europa, principalmente na França. Belém era considerada a Paris na América. Para fortalecer esse vínculo cultural, Paes de Carvalho resolveu então criar duas instituições, a Academia Paraense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico do Pará, recorda o pesquisador José Leôncio Siqueira, ocupante da cadeira nº 39, cujo patrono é Theodoro Braga, e diretor de Comunicação do IHGP.
Naquela época não existiam faculdades no Pará, então os grandes intelectuais foram convidados a fundar a instituição. Atualmente são 70 cadeiras e os associados mantêm o instituto com uma mensalidade de R$100, insuficiente para financiar as necessárias reformas e menos ainda a ampliação do acervo.
Localizado na rua do Aveiro (antiga Tomázia Perdigão), nº 62, no bairro da Cidade Velha, em Belém, o IHGP mantém uma biblioteca com mais de 50 mil títulos, que remontam ao ano 1.700, dos quais grande parte era da coleção original do Barão,inclusive documentos, cartas, mapas, pinturas e armas. Há mais de mil fotos históricas do séc. XIX e um material dado como perdido: atas e correspondências das sessões da Câmara Municipal de Belém.
A partir de projeto de lei do deputado Raimundo Santos, presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Alepa, cujo relator foi o então deputado José Megale, o IHGP foi reconhecido de utilidade pública estadual.
Domingos Antonio Raiol, o Barão do Guajará, herdou o prédio ao se casar com a sobrinha do Visconde de Arari. O Barão morreu nessa casa em 1912, aos 82 anos de idade e, em 1942, o então prefeito de Belém, Abelardo Leão Conduru, adquiriu o prédio de um de seus herdeiros e com ele os móveis e a biblioteca.
Sempre foi objetivo do IHGP promover estudos e explorações geográficas, investigações históricas, arqueológicas e etnográficas, de sorte a acumular crescentes dados para o domínio e o conhecimento dos homens de ciência. Na virada do séc XIX, o Instituto Histórico e Etnográfico do Pará, como inicialmente era denominado, se colocou na condição de intérprete e “guardião do passado”, cultuando os grandes vultos e heróis, exaltando as narrativas históricas e biográficas. Entre os patronos das cadeiras do Instituto figuram Jorge Hurley, Palma Muniz, Euclides da Cunha, José Veríssimo, Theodoro Braga, Tito de Almeida e Hygino Amanajás.
Entretanto, o Instituto se desestruturou, sendo refundado em 1917 como parte importante das ações cívicas programadas pela intelectualidade local desde 1916, em comemoração ao Tricentenário de Belém, e logo ganhou apoio da oficialidade republicana e da imprensa local. Belém, na primeira década do século XX, vivia a euforia trazida pelo boom da borracha, respirava modernidade.
A professora Anaíza Vergolino, atual presidente do IHGP, tomou para si a tarefa hercúlea de ressignificar o lugar e o papel do IHGP na História. O Hino do IHGP é parte desse reflorescimento, com letra do advogado e escritor Célio Simões e música do desembargador federal do Trabalho Vicente Malheiros da Fonseca, ambos membros efetivos da entidade centenária, da qual tenho a honra de ser sócia honorária.