
É muito triste o que está acontecendo com as placas de identificação das ruas de Belém. Sem o menor respeito pela memória, a prefeitura não fiscaliza a empresa que contratou para o serviço e produz absurdos revoltantes como o da foto do advogado e escritor Sebastião Godinho, mostrando o que fizeram na placa da Travessa Benjamin Constant, antiga Rua da Princesa, que interliga o bairro do Reduto aos bairros de Nazaré e Batista Campos.
A rua foi palco de fatos históricos. Conforme relato do historiador Carlos Rocque (“História de A Província do Pará”), em 28 de agosto de 1912, no cruzamento da Benjamin Constant com a avenida Nazaré, às 21h, o líder político Lauro Sodré foi tocaiado. No tiroteio, uma criança foi atingida. Bombeiros e capangas de Sodré, que seguiam no meio do cortejo popular, mataram o atirador, identificado como João Colé, membro da “Liga de Resistência ao Lemismo”.
No dia seguinte, 29, a capa de A Província do Pará estampou o fato e no mesmo dia o jornal, que funcionava onde hoje é o IEP, na esquina da Praça da República, foi incendiado por adversários políticos de Antônio Lemos, insuflados pelos demais jornais da cidade – Folha do Norte, O Estado do Pará, A Capital e O Critério.
Sitiados no prédio, Humberto de Campos, Ricardo Borges e Romeu Mariz fecharam as portas, ligaram a eletrificação das grades e responderam ao tiroteio. Mas faltou luz, e eles ficaram sem defesa. Pediram socorro à Polícia Militar. Um pelotão foi enviado, comandado pelo capitão Pedro Nolasco, que nada fez. Apelaram ao Corpo de Bombeiros, que quando chegou, ao invés de água, jogou combustível. Recorreram ao Exército, que só chegou ao local quando tudo estava consumado.
No dia 30 de agosto, Antonio Lemos sofreu brutal atentado: foi cuspido, arrastado na rua, pisoteado, teve a casa incendiada e partiu para o exílio, auxiliado pelo inimigo Lauro Sodré, que o salvou da morte.