Ainda ouvimos homens afirmando que não sabem do que as mulheres tanto reclamam, afinal, ‘só na cabeça delas que existe diferenças sociais entre homens e mulheres’. Quem nasce mulher sabe da luta diária que enfrenta.
É verdade que as mulheres conseguiram grandes conquistas. Um número maior de mulheres estão ocupando importantes posições nas empresas, na política e na sociedade em geral, inclusive derrubando antigas crenças quanto ao seu papel social. Mas, o custo que pagam também é assustador. Os altos índices dos disturbios alimentares, dos procedimentos estéticos e das cirurgias plásticas para atender a demanda por um padrão ideal de beleza onde quilos excedentes e rugas são pretextos para estigmatizar alguém, não importando os dano psiquicos e os efeitos nocivos substanciais na saúde do indivíduo, são dados alarmantes.
A manipulação da imagem da mulher pela indústria da beleza, impondo uma padrão corporal e comportamental que capture o olhar masculino, está destruindo sua resistência psicológica e jogando por terra anos de luta, mesmo quando se trata de mulheres do chamado primeiro mundo.
Então, vem a pergunta que não pode calar: será que as mulheres se sentem realmente livres? É difícil admitir, mas, há uma preocupação excessiva com a aparência. Não é só um corpo magro musculoso que exigem, mas também pele lisinha, unhas e cabelos bem cuidados, além de roupas incríveis. Será que podemos pensar que se trata de uma forma de conter a liberação feminina?
Mulheres que conseguem se destacar são as que mais sofrem comentários cruéis sobre sua imagem. Pesquisas de diferentes instituições revelam com unanimidade que a maioria das mulheres que trabalham, são bonitas e bem-sucedidas, estão aprisionadas em uma ditadura da beleza na qual o envelhecer, processo natural, causa terror.
Para algumas escritoras feministas, o mito da beleza feminina é visto como uma arma política contra a evolução da mulher. Conforme as mulheres se liberaram da idéia de que lugar de mulher era na cozinha e passaram a ocupar o lugar que querem, o mito da beleza passou a permear como uma forma de controle social.
A reação contemporânea é extremamente violenta. Ao cair a função da coerção social dos mitos da maternidade, da castidade, da domesticidade, da brandura, da docilidade e da consequente passividade, vem o mito da beleza como uma forma de controlar aquelas que parecem incontroláveis. Daí observarmos alguns homens tentando desestabilizar psicologicamente uma mulher que se elegeu prefeita de uma cidade próxima à Belém, com comentários que não dizem respeito à função que desempenha, e sim em relação as suas características físicas, numa tentativa de desfalicizá-la. Então, diante dessa mulher que admira e que provavelmente expõe sua própria debilidade, ao invés do sujeito se perguntar “quem sou eu diante dessa mulher tão incrível que consegue desempenhar a função de mãe, mulher e gestora”, desqualifica-a enquanto mulher para que se sinta menos impotente.
Há um vídeo na pagina do Estado do Pará On Line com o seguinte comentário: “o professor de dança (jovem) Pedro Queiroz, deu um verdadeiro show ao dançar com uma idosa na Praça da República”. Não resisti. Fui até a página e escrevi: uma correção. Ele dançou com uma senhora. É verdade que a senhora não é jovem, mas, incrível foi um jovem dançar com uma idosa quando poderia ter escolhido outra jovem ou foi a beleza da dança?
A industria da beleza virou censor cultural de intelectualidade, feminilidade e sucesso. O mito da beleza serve como um jogo político, financeiro, repressor da sexualidade e instituidor do poder masculino, regulando o comportamento, não a aparência. Portanto, está na hora das mulheres se perguntarem: em que posição me coloco quando permito que o outro diga o corpo que devo ter, o que devo ser e o que devo comer para que seja suficiente fálica e desejada?
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