Este é um livro para jovens que pretendem conhecer a história política brasileira e da América Latina a partir dos anos 60, sem precisar recorrer a livros de pesquisa que a eles podem parecer enfadonhos. Roberto usa uma escrita leve, formato de romance, personagens, com a isenção necessária para apresentar as razões e os pecados de ambos os lados da questão da época, entre comunismo e capitalismo, que causou muitas mortes, torturas e injustiças. Parte de um casal formado por um uruguaio que foi a São Paulo estudar Letras e uma paulista já engajada nos movimentos da faculdade. Eles se casam, vem a gravidez e ambos procuraram não mergulhar no assunto para proteger o filho. Uruguaio, que se naturalizou brasileiro, foi apelidado, sem malícia, de tupamaro e quando o caldo entornou e os estudantes foram caçados, veio o aviso que corria perigo e teve de fugir. Sumiu. Foi preso e cruelmente torturado, sem nunca ter estado envolvido em ações ou usado armas. Mãe e filho conseguiram se refazer e ela casou com um brasileiro com posição importante em grande empresa norte-americana.
Agora estão assistindo ao comício das diretas, em 85. A mãe, anima-se, o filho agora é publicitário bem sucedido e o marido, capitalista. Vão jantar fora quando chega uma francesa com notícias do “tupamaro” tido como desaparecido. Ele morreu em Paris, ainda pelas sequelas da tortura. Trava-se diálogo entre o emocional e o tempo decorrido, há acusações e um final inesperado.
Ao final, Roberto elenca uma série de livros importantes, sobre o Golpe de 64, onde fez a pesquisa necessária para escrever. Para quem já conhece, também é interessante pelo diálogo e as lembranças de um país que procurava seu caminho e talvez ainda não tenha encontrado.
Serviço: a obra de Roberto Elisabetsky é editada pela Boitempo, custa R$49 e pode ser adquirida aqui.
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