O filme romântico, como gênero cinematográfico, se consolida como atividade industrial nas primeiras décadas do século passado com pequenos filmes mudos em preto & branco e depois em formato de média e longa metragem. Com a padronização do cinema colorido, advento do som e o sistema das estrelas de cinema (star system), o gênero romântico (e subgêneros: comédia romântica, melodrama) se firma como poderoso veículo de moda, ideais e emoções na História do Cinema Mundial.
Para o Dia dos Namorados é usual a indicação de filmes leves e sedutores, produções que cumprem o papel necessário de cinema de entretenimento. Mas, o cinema como reinvenção corre por fora e apresenta produções que aprofundam o tema das relações amorosas em diversos níveis de abordagem e complexidade.
O exemplo clássico é a chamada Trilogia do Amanhecer, do cineasta e escritor Richard Linklater com os filmes “Antes do amanhecer”, “Antes do pôr do sol” e “Antes da meia-noite”. Com Ethan Hawke e Julie Delpy, a trilogia tem início com personagens que se conhecem em um trem e desembarcam em Viena, cidade em que celebram o primeiro encontro, a descoberta e promessas de amor. No segundo filme, a sensação desconcertante de rever o amor que não aconteceu gera longas discussões e a possibilidade de que agora tudo pode dar certo. No terceiro filme, o desafio da maturidade é a prova de fogo que determina ou não a continuidade da relação amorosa.
Em “Namorados para sempre”, de Derek Cianfrance, a narrativa alterna o momento atual com fatos precedentes (flashback). Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling) passam por um período de desgaste e incertezas no teste de resistência e a rotina que corrói sentimentos. O mesmo procedimento de flashback está presente em “Amor em 5 tempos”, do cineasta francês François Ozon. Diretor de filmes instigantes, Ozon faz um tratado sobre o casamento contando a história de trás para frente, com momentos de amor e infidelidade.
A produção nacional marca presença com o duelo de interpretação de Tales Pan Chacon e Fernanda Torres no denso “Eu sei que vou te amar”, de Arnaldo Jabor; “Pequeno dicionário amoroso 1 e 2”, de Sandra Werneck; e “Houve uma vez dois verões”, de Jorge Furtado. O filme de Jabor faz parte da Trilogia entre quatro paredes (com “Tudo bem” e “Eu te amo”), onde o cineasta explora a estética de cenários fechados para questionar o mito do amor, codependência e relações paralelas não ditas. Já os filmes de Sandra Werneck são intercalados por depoimentos sérios e engraçados para a tarefa nada fácil de questionar a atração física e emocional mesmo depois do casal já estar em outros relacionamentos. E o juvenil “Houve uma vez dois verões” resgata a urgência e encanto do primeiro amor em paisagens solares.
Falar de amor é também falar dos filmes do italiano Bernardo Bertolucci (“Eu e você”, “O céu que nos protege”), François Truffaut (“Jules e Jim – uma mulher para dois”, “A História de Adele H), e se deleitar com vários filmes de Woody Allen (“Meia-noite em Paris”, “Todos dizem eu te amo”, “A rosa púrpura do Cairo” e “Noivo neurótico, noiva nervosa”).
A lista parece não caber nesse texto. Como esquecer “Amor à primeira vista”, com Robert De Niro e Meryl Streep na releitura do classicão “Desencanto”, de David Lean? Com deixar de fora os belos filmes Wong Kar-Wai, cineasta de Hong Kong que assina “Felizes juntos”, “Amor à flor da pele” e “Um beijo roubado”?
E talentosamente o cinema contemporâneo fala de amor de todas as matizes e tendências. É só ficar com os olhos bem abertos para produções como “Me chame pelo seu nome”, de Luca Guadagnino; “Retrato de uma jovem em chamas”, de Celine Sciamma; e “Se a rua Beale falasse”, de Barry Jenkins.
Para finalizar, o cinema paraense abre o foco para “Canção do amor perfeito”, produção contemplativa do cineasta Fernando Segtowick. No filme, o amor é uma decisão, com expectativas, qualidades e defeitos da pessoa amada.
Imagem promocional de “Namorados para sempre”, de Derek Cianfrance
Foto: Divulgação
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