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(A menina que viveu o vulcão)

Intensa

Viveu o agora

Como se Deus lhe tivesse dado asas

Escalou o céu de Sang Hyang Tungga

Morando um pouco dentro de nuvens-casas

Aquarela aurora de tinta e pincel

Serelepe

Abriu braços alados

De cera, apontados para o sol

E dançou no colo de Apeliotes 

No reino de Éolo

Suas brincadeiras de Ícaro

Mística

Viveu para ontem

Na trilha incerta de Batara Guru

Sussurrando preces sagradas 

Espiou entre anáguas

Por sob a saia do gigante de fogo

Pueril

Zombou da beleza bruta de um Dewa

Com seu colo sinuoso e abissal 

Disputou ígneas travessuras 

Distraindo os guardiões 

De florestas colossais

Destemida

Pediu licença a Hanuman

Trêmula de coragem e devoção

Bateu os pés sem chão 

Com o coração ribombado

Sentiu medo mas foi! 

Faminta

Pediu um banquete a Ibu Pertiw

Que faz brotar do chão iguarias 

Frutos doces de cores sortidas 

Deitou em seu colo de mãe

Dormiu em cama de nuvens

Exausta

Murmurou um abrigo a Batara Indra

Clemência de sua ira

Enquanto o manto escuro de Nox

Escondeu sua lágrimas 

Doeu e ela chorou

Serena

Embarcou no derradeiro Perahu

Coberto de flores eternas  

À salvo da zombaria dos Kalas

E dormiu serena por entre pedras 

No vente sagrado de Acintya

(Para o repouso eterno de Juliana Marins)

Shirlei Florenzano Figueira
Shirlei Florenzano, advogada e professora da Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA, mestra em Direito pela UFPA, Membro da Academia Artística e Literária Obidense, apaixonada por Literatura e mãe do Lucas.

O direito de ir à praia e ouvir os sons da natureza

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