Publicado em: 9 de junho de 2025
Após dedicar décadas à produção científica sobre a Amazônia, com uma dezena de livros de pesquisa consagrados, a professora emérita da Universidade Federal do Pará (UFPA), Violeta Refkalefsky Loureiro, inquestionavelmente uma das mentes mais brilhantes da contemporaneidade global, presenteia o público com uma nova obra de natureza autobiográfica. “Travessia – uma vida entre a Amazônia e o mundo” será lançado na próxima quarta-feira, 11 de junho, a partir das 18h30, no prédio amarelo do Instituto de Ciências das Artes (ICA), na Praça da República, em Belém. A noite contará com um coquetel de celebração à trajetória da autora, que é referência nos estudos sobre a região.
Ao contrário de suas obras anteriores, de cunho acadêmico, Travessia se apresenta como uma narrativa íntima, mas profundamente entrelaçada com os grandes dilemas e encantos da Amazônia. Violeta constrói um relato que vai além do testemunho pessoal. Ela expõe, com sensibilidade e densidade, a forma como sua história de vida foi moldada pela floresta, pelos conflitos que a atravessam, e pelos sonhos daqueles que nela habitam. A obra é uma fusão entre o percurso biográfico da autora e a formação de sua consciência amazônica.
O livro começa com a trajetória de seu pai, um judeu que fugiu da Europa nazista nos anos 1930 e encontrou refúgio no Brasil, onde se casou com a mãe de Violeta, filha de imigrantes. A família se estabeleceu no alto da serra do Tepequém, “lá onde o Brasil começa ou onde termina”, no então Território Federal de Roraima, num cenário que conduziria o vínculo visceral entre a autora e os confins da Amazônia.
A partir daí, o livro narra uma vida pontuada por travessias, no sentido geográfico, intelectual e emocional. Violeta descreve as viagens de avião da Força Aérea Brasileira até o Rio de Janeiro para estudar, com escalas em aldeias indígenas e comunidades ribeirinhas; sua formação universitária na França e em Portugal; as dificuldades enfrentadas durante a ditadura militar brasileira, incluindo prisões e perseguições; e os anos de retorno e dedicação à causa amazônica. O casamento com o poeta Paes Loureiro também ganha espaço na narrativa, uma interseção entre afeto e compromisso político.
Violeta Loureiro é uma intérprete singular da Amazônia não apenas enquanto tema de estudo, mas enquanto território vivido, experienciado, amado e, por vezes, ferido. A autora reflete sobre os conflitos agrários, a desertificação da floresta, as ameaças aos povos originários e os ataques à biodiversidade, mas também oferece uma visão esperançosa, que reconhece e se irmana ao desejo ancestral de uma “terra sem males”.
Ao longo de sua vida, Violeta Loureiro sempre buscou desvendar as contradições da Amazônia com rigor intelectual e compromisso ético. Com Travessia, ela convida o leitor a conhecer essa mesma região por meio de suas memórias, sentimentos e aprendizados.

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