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Um artigo publicado na revista Nature no último dia 8 de janeiro revelou um dado alarmante: um quarto das espécies de água doce no mundo estão ameaçadas de extinção. O trabalho é resultado de uma avaliação global conduzida por uma equipe de cientistas liderada por Catherine A. Sayer e William R. T. Darwall, abrangendo 23.496 espécies de crustáceos decápodes, peixes e odonatas (como libélulas). Este é o estudo mais abrangente já realizado sobre fauna de água doce, destacando a gravidade das ameaças que afetam esses ecossistemas.

Entre os principais resultados, o estudo aponta que 24% das espécies avaliadas estão classificadas como ameaçadas na Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza). Os crustáceos decápodes são o grupo mais afetado, com 30% das espécies ameaçadas, seguidos pelos peixes (26%) e odonatas (16%). A pesquisa também destaca que a extinção de espécies de água doce ocorre de forma acelerada e muitas vezes invisível: desde o ano 1500, 89 espécies foram declaradas extintas, e outras 187 podem já estar extintas, mas carecem de confirmação definitiva.

As principais ameaças à fauna de água doce incluem poluição, que afeta 54% das espécies ameaçadas e é causada principalmente por efluentes agrícolas, esgotos urbanos e despejos industriais; construção de barragens e extração de água, que impactam 39% das espécies ao alterar regimes de fluxo, degradar habitats e bloquear rotas migratórias; mudança no uso do solo e práticas agrícolas, responsáveis por 37% das perdas de habitat; e espécies invasoras e doenças, que afetam 28% das espécies por competirem ou predarem as nativas. Mais de 80% das espécies ameaçadas enfrentam múltiplas ameaças simultaneamente, o que agrava ainda mais o risco de extinção.

Os ecossistemas de água doce cobrem menos de 1% da superfície terrestre, mas sustentam mais de 10% das espécies conhecidas, incluindo um terço de todos os vertebrados e metade dos peixes do mundo. Esses ambientes – a Amazônia é o maior deles – fornecem serviços essenciais, como controle de enchentes, ciclagem de nutrientes e mitigação das mudanças climáticas, além de serem cruciais para a subsistência de bilhões de pessoas.

O estudo também destaca que a maioria das estratégias de conservação global tem como base dados de espécies terrestres, como aves e mamíferos, ou fatores abióticos, como qualidade da água e estresse hídrico. No entanto, esses dados não são eficazes como substitutos para representar as necessidades das espécies de água doce. Por exemplo, indicadores abióticos tiveram desempenho pior que escolhas aleatórias ao priorizar áreas para conservação.

Para mitigar o declínio da biodiversidade de água doce, o estudo recomenda melhorar a governança e gestão de recursos hídricos, promovendo soluções baseadas na natureza; integrar as necessidades das espécies de água doce em planos de conservação globais e locais, considerando conectividade e fluxos ambientais; investir em pesquisa e monitoramento, incluindo ações para diminuir o número de espécies classificadas como “dados insuficientes”; e aumentar a conscientização sobre a importância da biodiversidade de água doce, especialmente em comunidades locais e setores de desenvolvimento.

A conclusão é clara: proteger a biodiversidade de água doce é essencial para o meio ambiente, para a segurança alimentar, os meios de subsistência e o bem-estar humano.

Foto: Gov.br

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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