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Paulo Guilherme Lavor dos Santos chegou à UFSC nos anos 80, adolescente, aprovado no vestibular para cursar Física (Bacharelado). Próximo de terminar o curso, desistiu, mas não deixou a UFSC. Natural de Faro, Oeste do Pará, Paulo logo fez amizades e se adaptou à vida no sul do Brasil. Envolveu-se nos movimentos estudantis e manteve-se sempre próximo à Universidade, onde fizera amigos e colegas de militância.

Mais recentemente, em 2018, ingressou como estudante novamente, desta vez no curso de Licenciatura em Matemática. No entanto, novamente não concluiu, pois faleceu em 18 de março de 2023, vítima de infarto, aos 63 anos. Segundo seus amigos, a UFSC foi o lugar onde Paulo viveu os melhores anos de sua vida. Por isso, seu desejo era que, após a sua morte, suas cinzas fizessem parte do campus da Universidade, em Florianópolis.

Portanto, em 24 de março, o reitor Irineu Manoel de Souza juntou-se à roda de amigos que, com o auxílio dos trabalhadores terceirizados da Prefeitura Universitária (PU), acompanhou a plantação de uma muda de ipê amarelo na Praça da Cidadania, centro do campus da UFSC na Trindade, em Florianópolis.

O local, a Praça da Cidadania, foi escolhido pelos amigos de Paulo. Um deles, Nelson de Faria Campos, que vive em Jaraguá do Sul, lembrou-se de uma manifestação do próprio Paulo, de um desejo seu de ser cremado e ter suas cinzas colocadas na UFSC. O irmão, Silvio Lavor, concordou em nome da família.

“A Universidade só apoiou esse desejo do Paulo”, explica Samuel Pantoja Lima, Secretário de Comunicação da UFSC e professor do curso de Jornalismo. “Conversamos com a Reitoria, a Coordenadoria de Gestão Ambiental e a PU e houve essa autorização. Como ato simbólico, foi sugerido que fossem colocadas as cinzas junto com a plantação de uma árvore, e assim foi feito”, complementa.

As cinzas de Paulo foram enterradas junto às raízes de uma muda de ipê amarelo, na Praça da Cidadania, campus da UFSC em Florianópolis. (Foto: Acervo Pessoal)
“O Paulo tinha uma mente brilhante. Estudamos juntos, em Santarém no [que hoje se chama] Ensino Médio. Ele era levantador de vôlei, jogou nos clubes da cidade”, lembra o professor. Samuel relata que, em função do campus avançado da UFSC que existia na cidade, uma geração de alunos de Santarém veio a Florianópolis estudar nos anos 1970 e 1980.

“Estudamos juntos, no terceirão do Colégio Dom Amando, em 1979. Construímos um vínculo de afeto profundo ao longo de sete anos, naquela escola. Paulo era muito querido, desta geração de pioneiros, dessa leva de amigos que se deslocaram de Santarém para fazer curso superior na UFSC. Na época não tinha essa opção de ensino lá, mas com o campus avançado da UFSC, um grupo de pessoas veio pra cá”, conta Samuel.

Além dos muitos amigos, Paulo tinha uma filha. Trabalhava com a militância partidária e social. “Ele tinha perfil de pensador, da física, da filosofia. Tinha vínculo com o PCB, e na UFSC chegou a participar da gestão [do ex-reitor] Diomário”, complementa o professor Samuel.

A época em que Paulo atuou na gestão também é lembrada pelo amigo José Francisco Fletes, atual presidente da Apufsc-Sindical, professor do Departamento de Informática e Estatística da UFSC. Fletes escreveu uma elegia ao amigo Paulo, na qual descreve seu primeiro encontro, em 1982, com a “figura magra, que se apresenta como paraense”: “Foi um bate-papo marcante, pois revela sua militância estudantil e muita eloquência em expor suas ideias revolucionárias, mas muito ponderadas e de acordo com a conjuntura vigente”, escreve Fletes.

A militância foi a profissão para Paulo. Ao longo de sua vida se dedicou a participar ativamente de campanhas e movimentos sociais. Na UFSC, atuou na Pró-Reitoria de Assuntos da Comunidade Universitária (PRAC), durante a gestão do ex-reitor Diomário de Queiroz, como assessor informal do professor Fletes. De forma voluntária, se envolveu no processo de concessão do título de Doutor Honoris Causa ao sociólogo Herbert de Souza, o Betinho e no evento realizado na UFSC, na praça onde hoje suas cinzas adubam um ipê amarelo.

A militância, conta Fletes, não rendeu a Paulo grandes cargos políticos nas gestões que ele próprio ajudou a eleger. Por isso, o professor reflete: “como um militante, um humanista, pensador, dedicado à causa revolucionária de transformar o mundo a partir de seu cotidiano, passa despercebido quanto às necessidades de sobrevivência”.

Texto: Mayra Cajueiro Warren / jornalista da Agecom / UFSC

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