O documentário de Pete Jackson a partir de fitas gravadas há 50 anos atrás pelos Beatles, algumas delas compiladas no filme “Let it Be”, de Lindsay-Hogg vem sendo bastante comentado. Para mim, que influenciado por meu irmão Edgar, ouvi e li tudo a vida inteira sobre o quarteto, chega a incomodar ler nas mídias sociais que há pessoas que não acham assim tão importante e até chato. Gente mais nova, que não chegou a ser atingida por eles. Um amigo me conta que ia na casa de outro amigo ouvir, mas na voragem do tempo, esqueceu-os. Daqui desta Belém tão distante e tão difícil de comunicar, nós ouvíamos sem parar os discos. Fazíamos mímica na frente do espelho. Usamos cabelos grandes, botas. Aprendendo a falar inglês, tive dificuldades quando vieram as letras “psicodélicas”, que na verdade introduziram cenas, paisagens, ao invés de garoto encontra garota e tira pra dançar. O filme de Lindsay-Hogg aproveita o fim da banda e as queixas para fixar-se nos maus momentos. Yoko Ono é a responsável, acreditamos, em um misto de preconceito e misoginia. John e Paul brigam por liderança. Enfim. “Get Back”repõe no lugar muita coisa. Pedro Antunes escreveu que, para os fãs empedernidos, como diria Edgar, é como um BBB. Como se fossemos Beatles, também, participando de seu dia a dia. Eles riem, cantam e dançam. Lembram os tempos de Hamburgo, onde conheceram Billy Preston que chega, toca três acordes, arredonda tudo e recebe o “você está na banda”. Ringo evita discussões. Senta e toca o horário inteiro. Quando as coisas ficam sérias faz de conta que dorme. Para quem conhece, há diversas canções que adiante foram lançadas em seus discos solo. E há George Harrison, personagem bastante controverso. No primeiro dia de gravação leva um Hare Krishna para rezar no estúdio. Como não conseguiu tocar cítara como Ravi Shankar, largou tudo e foi ser fã de corridas de F1 e produtor de filmes. Ele próprio confessa que não era um guitarrista como Eric Clapton, que improvisava no blues e até jazz. Gostava mais dos acordes. Por timidez, ficava no seu canto, mas ao amadurecer e começar a compor, queria colocar suas músicas também. Aproveitou bem a companhia. Em carreira solo não manteve o mesmo padrão. Mas é que os Beatles eram John e Paul. Tocavam, um olhando para o outro, adivinhando as notas. George canta “All things must pass”, linda, e eles não dão bola. Nas outras, Paul reclama. Ele dá respostas irônicas. Um dia levanta e sai da banda. Fleugmaticos, ficam estáticos, uns dizendo que deviam apagar suas partes, outros chamar Eric Clapton. E então fazem uma jam com Yoko Ono gritando tudo o que pode. Botam pra fora. Houve um encontro e nada. Ringo chamou John e Paul e falou. Depois, há uma conversa entre eles. Um e outro assumem suas culpas. Outro encontro e George retorna. Vida que segue? Alguém informa a John que o empresário Allen Klein chega para falar com ele. Nada mais foi dito. Mas foi a razão da dissolução. Klein era um escroque. Mais tarde, deram razão a Paul, que queria um Eastman, parente de Linda. E as músicas? Para mim, o título devia ser “Two of Us”, música que define John e Paul, com belíssima letra e música. Aparece Paul começando a compor “Get Back”. Incrível. E um dia após o outro, eles se perguntam “o que foi que você fez”, ou seja, à noite, compunham novidades. Não há consenso se deviam fazer um show grandioso em “Trípoli”, Líbia, por exemplo. Idéias malucas. Parecem nem querer. John não quer. Paul evita o confronto, mas está nervoso. Queixa-se que o fazem de chefe e o deixam sozinho. Yoko Ono não dá uma palavra nas músicas. Só quer saber de John. Mas a convivência entre todos é ótima. Maureen e Pattie aparecem. Linda leva Heather. Eles vão empilhando músicas, clássicos, incluindo algumas antigas. Também cantam outras, de sua autoria, de começo de carreira. Então vem a idéia do show no telhado da Apple. Eles estão felizes, tocando. Trocam olhares e sorrisos. Repetem algumas músicas ensaiadas. Queriam tocar mais. A Polícia aparece. Nosso BBB acaba. Foi maravilhoso. Quem não gostou tem doença no pé. Quem não viu ainda pode.
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