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Ela era um dos tormentos da molecada que participava das disputadas peladas de rua, numa época em que nenhum garoto abria mão desse tipo de lazer. Essa dor é muito recorrente entre os maratonistas e demais corredores, principalmente os iniciantes, obrigados até mesmo a desistir de uma competição, pelo sofrimento da “dor do lado” ou “dor de facão”, que quando se intensifica, dificulta até mesmo uma simples caminhada. Clinicamente, a causa desse incômodo ainda não é compreendida ou explicada por completo, mas os médicos estimam que pode estar ligada a diversos fatores, entre eles, a fadiga muscular, os movimentos do corpo e principalmente a grande vilã – a respiração inadequada. Para os peladeiros de fim de tarde, o remédio para esse mal estava ao alcance da mão. Bastava colher uma folha bem verde e colocá-la sob o cós do calção, que a maldita dor desaparecia como que por encanto. A mais eficaz era a folha de mangueira, porém em sua falta, qualquer outra servia, desde que estivesse bem verdinha e não fosse a da espinhenta jurubeba. A cura era em parte psicológica, pois em razão da pausa que a vítima fazia para localizar a árvore, escolher a folha e conseguir apanhá-la, a respiração se normalizava e a dor cessava. Na realidade, a expressão é uma corruptela linguística (deformação popular das palavras ou expressões faladas na linguagem culta) daquilo que a medicina conceitua como sendo a “DOR DO AR DESVIADO”, justamente o ar respirado pela boca, que causa essa sensação dolorosa durante as atividades esportivas, nas quais os competidores respiram sofregamente tanto pelo nariz quanto pela boca e o ar que não vai para os pulmões se acumula na cavidade abdominal, quase sempre na lateral da barriga. De “Dor do ar desviado” para “Dor de Viado” foi um pulo, ficando dessa forma rotulada em definitivo. Quem experimenta essa sensação dolorosa durante a prática dos esportes de alto impacto, passa por maus momentos até o desaparecimento dos sintomas. Não há, entretanto, nenhuma explicação científica sobre os efeitos mágicos da folha verde como forma eficiente de combatê-la. É razoável que seja apenas mais um placebo, nos moldes da conhecida ingestão de água com açúcar como calmante.

Célio Simões
Célio Simões de Souza é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. É membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras em Maringá (PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.

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