O Teatro Popular Nazareno Tourinho (praça do Carmo, 48, Cidade Velha), abriu nesta segunda-feira, 20, a exposição “Fauna e Flora Brasileira”, com gravuras que retratam a biodiversidade brasileira, difundindo a preservação ambiental e o pioneirismo de Emílio Goeldi e Oswaldo…

O Brasil perdeu 536 mil hectares para o fogo entre janeiro e fevereiro de 2023. A quase totalidade dessa área – 487 mil hectares, ou 90% do total – foi na Amazônia. Os dados são do Monitor do Fogo do…

O vereador Paulo Enildo Dos Santos Oliveira, de Bagre, município do arquipélago do Marajó, foi denunciado por estupro de uma adolescente. A mãe da vítima, ao tomar conhecimento do crime, registrou a ocorrência na Delegacia da Mulher de Breves, receosa…

Três projetos de jovens cientistas parauaras são finalistas na 21ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharias - Febrace, em São Paulo, que acontece no período de 20 a 24 deste mês. Dois deles receberam apoio do Governo do Pará, via…

Tecnologia para verticalizar cadeia produtiva de açaí

Apesar de ser típico da Amazônia e elemento fundamental da cultura alimentar parauara há séculos, o açaí até hoje não verticalizou sua cadeia produtiva no Pará, onde é mais abundante, principalmente no arquipélago do Marajó. Ao contrário: atravessadores pagam – mal e sem cumprir a legislação trabalhista – os marajoaras (principalmente crianças, adolescentes e mulheres, porque são mais leves) que arriscam suas vidas subindo nas árvores usando a peconha (espécie de laço feito com cipós), pulando de uma árvore para outra com terçado na mão, sem qualquer proteção. O risco de morte é evidente, não há melhora do IDH – Índice de Desenvolvimento Humano e a economia regional não prospera, além do que roubam do arquipélago o título de maior produtor do açaí.  

Estudo da Fundacentro e do Instituto Peabiru no médio rio Canaticu, no município de Curralinho, uma das principais áreas de coleta, em que vivem 1.029 famílias e onde cerca de três mil pessoas vivem disso, constatou que a atividade é uma das mais precárias e perigosas do Brasil. Para se ter uma ideia, só em um dia de pico de safra há algo próximo de um milhão de subidas em açaizeiros. O que era tradição extrativista e agricultura familiar tomou características de commoditie, abrangendo mais de 120 mil famílias, envolvendo de dois a quatro trabalhadores por família, e nenhum órgão público, estadual ou federal, se preocupa com o registro destas informações, nem há empenho em coibir o desrespeito à segurança e saúde do peconheiro. A própria sociedade tem uma visão romântica sobre a coleta na floresta e o subir no açaizeiro, que não corresponde à realidade de quem sobe na palmeira apenas com um facão sem bainha e um calção, quase sempre descalço. É total a invisibilidade dessa tragédia que ceifa jovens vidas. Indústrias, atacadistas e varejistas não se responsabilizam pelas funestas consequências. A longo prazo, o esforço físico de subir na árvore afeta os pés e as pernas, e como a informalidade nas relações de trabalho é total, essas pessoas ficam doentes, inválidas, sem conseguir prover o próprio sustento e de suas famílias e em completo desamparo, sem aposentadoria ou benefícios legais. Outra gravíssima consequência é a alta evasão escolar no período da safra do açaí, o que corrobora para que a região tenha os piores índices educacionais do Brasil, e o menor IDH, além do aumento do consumo de álcool, drogas e prostituição.  

A Fundacentro  – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho – é vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego e a Ong Instituto Peabiru existe há duas décadas, presta assistência técnica e extensão rural, segurança fundiária de quilombolas no Marajó, educação ambiental, defende direitos das crianças e adolescentes, cadeias de valor do açaí, de oleaginosas, da pesca artesanal, do mel de abelhas nativas, do ecoturismo e da palma (dendê), investimento social corporativo e gastronomia inclusive, e coordena o ProGoeldi, parceria com o Museu Paraense Emílio Goeldi para a revitalização do Parque Zoobotânico em Belém). Entre as soluções imediatas propostas pelas duas instituições figuram medidas simples, como o desenvolvimento e aplicação de tecnologias para a coleta e manejo, a fim de reduzir significativamente os riscos. Acontece que os players mais fortes da cadeia de valor simplesmente não se interessam pela condição do peconheiro. É preciso normatizar e regulamentar a atividade, discutindo essas questões com a comunidade, e alertar para a urgência de enfrentamento da temática. 

Na Mata Atlântica, onde o açaizeiro se chama Jussara, a geração de renda local para extrativistas, pequenos produtores e cooperativas se deu por meio da cocriação, metodologia que reúne técnicos das empresas, usuários, pesquisadores, estudantes e profissionais de saúde, que criaram uma fórmula conectada com as necessidades das pessoas. Os caroços de açaí eram descartados após o despolpe. Agora, a sobra do processo de produção da polpa pelos agricultores agroecológicos é usado na confecção de bolsas térmicas. Descobriram que os caroços retêm o calor no produto utilizado para termoterapia, auxiliando no tratamento de dores e lesões musculares e articulares, processos inflamatórios, no alívio de estresse muscular e cólicas. Dessa forma, o insumo, que representa cerca de 70% do fruto e era jogado no lixo, hoje é mais uma fonte de renda e incentiva o cuidado com a palmeira. Um exemplo a ser seguido no Pará, com o apoio de suas universidades públicas. 

Fotos de Fernando Sette. 

Compartilhar

Share on facebook
Share on twitter
Share on pinterest
Share on vk
Share on tumblr
Share on pocket
Share on whatsapp
Share on email
Share on linkedin

Conteúdo relacionado

Participe da discussão

1 comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *