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O início do segundo mandato como presidente dos Estados Unidos de Donald Trump é um verdadeiro show de horrores não só para aquele país, mas para a humanidade. Um conjunto agressivo de ordens executivas, incluindo a retirada do país da Organização Mundial da Saúde (OMS), assinada horas após sua posse, mostra que o republicano pretende cumprir todas as atrocidades prometidas em campanha. Em menos de 24 horas, ele assinou cerca de 100 ordens executivas, incluindo 78 revogações de medidas implementadas por seu antecessor, Joe Biden. As mudanças abrangem temas como imigração, meio ambiente, relações internacionais e direitos sociais.

Desde sua primeira campanha presidencial em 2015, a política anti-imigração foi uma das principais bandeiras de Trump. No primeiro dia de seu novo mandato, ele sublinhou seu compromisso com medidas rígidas ao declarar emergência nacional na fronteira com o México, autorizando o envio de tropas para reforçar o controle e iniciar deportações em massa. “Milhões e milhões de criminosos” serão expulsos, declarou o presidente, sem fornecer detalhes claros sobre a logística da operação.

Uma das ordens mais polêmicas pretende acabar com o direito à cidadania para crianças nascidas em território estadunidense, caso os pais sejam imigrantes ilegais. Essa medida, que enfrenta obstáculos legais significativos por contrariar a 14ª Emenda da Constituição, pode entrar em vigor em 30 dias. Com o perdão do sadismo, é impossível não rir das madames e playboys de Belém que se acham parte da elite econômica mundial e declaram apoio a regimes de direita, como o de Trump, e que agora não poderão mais gastar seus preciosos dólares entrando naquele país grávidas, em esquemas escusos, para parir seus rebentos em solo estadunidense e garantir, assim, o green card de toda a família.

E para os ditos conservadores de direita parauaras que sonhavam com uma presença laranja na COP30, a grande notícia é que Donald retirou os Estados Unidos novamente do Acordo de Paris, justificando a medida como uma defesa das indústrias estadunidenses contra uma suposta concorrência desleal da China. “Os Estados Unidos não vão sabotar suas próprias indústrias enquanto a China polui com impunidade”, afirmou Trump.

Além disso, ele revogou a meta de que metade dos veículos vendidos até 2030 fossem elétricos, uma das principais iniciativas climáticas da gestão Biden. Outras ações incluem o fim de restrições à perfuração no Alasca e a declaração de emergência energética nacional, que favorece os combustíveis fósseis e contraria a transição energética promovida pelo governo anterior.

Em outro decreto absurdo, foi anunciada a saída dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS) no prazo de 12 meses, citando a má gestão da pandemia de Covid-19 como motivo. A decisão repete ações de seu primeiro mandato e, já que os EUA são o principal financiador, sua saída desencadeará uma reestruturação significativa na organização, prejudicando iniciativas globais de vigilância e resposta a surtos, especialmente em um momento crítico de circulação do vírus H5N1, causador da gripe aviária.

Além disso, a retirada compromete o acesso dos EUA a dados cruciais de vigilância epidêmica, necessários para antecipar ameaças à saúde pública. Essa decisão pode colocar os EUA como o “fona” (em paraensês) em questões como o desenvolvimento de vacinas e terapias.

Outra ordem executiva é, no mínimo, para se gargalhar diante de tanta ignorância. Donald renomeou – dentro dos Estados Unidos, claro – o Golfo do México como “Golfo da América” em documentos oficiais. A decisão não tem implicações práticas internacionais. O circo nacionalista é tão desprovido de inteligência que se esquece que “América” é o continente inteiro, incluindo o vizinho México.

O presidente estadunidense revogou sanções financeiras contra colonos israelenses na Cisjordânia, reafirmando seu apoio à expansão israelense no território ocupado.

Trump também assinou ordens que impactam diretamente direitos de minorias e a comunidade LGBTQIA+. Ele implementou uma política que reconhece apenas dois gêneros – masculino e feminino – para fins de comunicação e políticas governamentais, eliminando proteções para pessoas transgênero. Em adição, revogou uma série de medidas de apoio à igualdade racial e combate à discriminação, implementadas pela administração Biden.

A decisão de perdoar 1.500 pessoas condenadas pelo ataque ao Capitólio, ocorrido em 6 de janeiro de 2021, é ultrajante. Trump classificou os condenados como “reféns” e justificou os perdões como uma ação para corrigir o que chamou de “perseguição política”. Adivinhem quem foram os golpistas que vibraram com a notícia?

Aliás, depois de toda a pantomina do ex-presidente Bolsonaro em tentar reaver seu passaporte declarando que um primo do vizinho do amigo do Trump tinha mandado um e-mail o convidando para a posse e, diante da negativa, o choro copioso no aeroporto ao levar a esposa até o embarque – lágrimas estas nunca vistas pelas milhões de mortes em razão do Covid-19 no Brasil, que poderiam em considerável parte ter sido evitadas com uma gestão comprometida com direitos básicos e com a vida dos cidadãos – foi coroada com a não-entrada de Michelle e do filho Eduardo na posse que, como todo o mundo sabia, era só para convidados.

Por sinal, durante a assinatura de seus primeiros decretos no Salão Oval, o love de Bolsonaro afirmou que o Brasil e a América Latina dependem mais dos EUA do que o contrário. Questionado pela repórter da TV Globo Raquel Krähenbühl sobre a relação com o Brasil e demais países americanos, ele respondeu categoricamente: “A relação é excelente. Eles precisam de nós, muito mais do que nós precisamos deles. Não precisamos deles. Eles precisam de nós. Todos precisam de nós.” Que dia lindo para ser direitista abaixo da linha do equador.

Entre as medidas econômicas, Trump criou o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderado por Elon Musk, com o objetivo de reduzir gastos administrativos. Durante um comício logo após a posse, o bilionário fez um gesto que pode ser interpretado como a saudação nazista “sieg heil“. Ao proferir seu discurso na Capital One Arena, Musk bateu no peito com a mão direita e estendeu o braço, com a palma aberta, um gesto que repetiu para a multidão posicionada atrás dele. 

A reação foi imediata. Vários veículos de comunicação ao redor do mundo, incluindo jornais como o Haaretz, de Israel, e o The Guardian, do Reino Unido, classificaram o gesto como possivelmente “fascista”. Alexandria Ocasio-Cortez, congressista democrata, criticou: “vocês estão defendendo uma saudação Heil Hitler que sem dúvida foi feita e repetida”, escreveu no X.

Muitos defenderam o ocorrido dizendo que foi um sinal de mão socialmente desajeitado de um homem autista, já que Musk está dentro do espectro. Amy Spitalnick, líder da organização judaica JCPA, afirmou que ele sabia exatamente o que estava fazendo. “Esse gesto é um endosso explícito às políticas e partidos de extrema direita”, disse em comunicado.

Musk recorreu à sua plataforma X para responder às críticas. “Francamente, ataques do tipo ‘todo mundo é Hitler’ estão tão desgastados”, escreveu o bilionário, em tom sarcástico. Ele não forneceu maiores esclarecimentos sobre o gesto. O que é certo é que, nos últimos meses, Elon Musk tem intensificado sua aproximação com partidos e líderes de extrema direita. Ele manifestou apoio público à Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema direita alemão, e à primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, além de defender o partido britânico anti-imigração Reform UK, mostrando seu alinhamento com discursos nacionalistas e xenófobos.

Em seguimento à instauração da DOGE, Trump anunciou a suspensão temporária de programas de assistência externa por 90 dias busca revisar sua conformidade com as prioridades do governo. Essa medida impacta significativamente países que dependem de ajuda humanitária dos EUA, embora os valores exatos ainda não tenham sido divulgados. Ele também assinou uma ordem que facilita a demissão de funcionários públicos ao reclassificá-los como contratações políticas.

Outras ordens incluem o adiamento da proibição do TikTok por 75 dias, garantindo à administração mais tempo para decidir sobre o futuro da plataforma nos EUA. Por sinal durante a posse, pela primeira vez na história, estavam lado a lado publicamente os CEOs das principais big techs mundiais: Mark Zuckerberg, da Meta; Tim Cook, da Apple;  Jeff Bezos, da Amazon; Sundar Pichai, da Google; Shou Zi Chew, do TikTok; Sam Altman, da OpenAI; e, claro, Elon Musk, da Tesla, SpaceX e X. Se alguém ainda tem alguma dúvida do papel da tecnologia e das mídias sociais na manipulação política das massas…

As ações inaugurais de Trump refletem um retorno às políticas polarizadoras de seu primeiro mandato e demonstram que está disposto a confrontar tudo e todos, desde os adversários domésticos aos aliados internacionais, para promover sua visão de “Estados Unidos Primeiro”. Salve-se quem puder. A pergunta é: quem é que pode?

Foto: Retrato Oficial / Presidência da República dos EUA

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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