Hoje, o saudoso maestro Isoca faria 97 anos, se vivo fosse.
Quando se pergunta a razão pela qual Santarém é conhecida como Pérola do Tapajós é quase inevitável que a resposta esteja no belo poema de Felisbelo Sussuarana, musicado por Wilson Fonseca, em parceria com Pedro Santos, no ano de 1935:
“Tu és, ó cidade de beleza,
Na doce paz da tua singeleza
A resplender, banhada de arrebóis,
A pérola encantada
Do altivo Tapajós!
Em ti, a sonhar, doce recanto,
Sonhos de amor
Eu vivo num quebranto
Consolador.
Rincão de encantos mil,
Pedaço de alvorada dentro do Brasil!
P’ra te cantar
E exalçar,
Ó meu rincão,
Ó bem meu,
Da aurora roubo
O clarão!
Roubo do sol os raios e o calor
E o doce olor
Dos rosais;
Roubo o matiz
Do arrebol,
E roubo mais
O primor
Do rouxinol!
Santarém, terra mimosa,
Teu lindo nome
Quero banhado de mil sóis,
A graça majestosa
Do teu grande rio,
Desse Tapajós!
Ó meu rincão,
Tuas morenas
Filhas pequenas
Amo com esta afeição
Que vem do amor
Que me faz cantor!”
A valsa “Pérola do Tapajós” está publicada no 3º volume da Obra Musical de Wilson Fonseca (“Valsas, Modinhas, Toadas, Tangos e Canções”), Imprensa Oficial do Estado, 1984, p. 43/45.
Professor, jornalista, filólogo, teatrólogo, poeta e escritor, Felisbelo Sussuarana é parceiro musical de três gerações da família Fonseca (José Agostinho da Fonseca, Wilson Fonseca e Vicente Fonseca).
De autoria de Felisbelo são as revistas teatrais Eu Vou Telegrafar (1925) e Olho de Boto (1936), cujas peças musicais – muitas delas compostas por José Agostinho da Fonseca e Wilson Fonseca – até hoje são executadas, inclusive nos discos gravados pela Orquestra Jovem e Coral Wilson Fonseca e pelo Coral Expedito Toscano, que, sob a batuta do maestro José Agostinho da Fonseca Neto, lançaram, em 2002, os CDs Sinfonia Amazônica (volumes 1 e 2), marcos na histórica da música de Santarém.
O cognome de Santarém, como Pérola do Tapajós, não se justifica somente por algum sentido figurado, poético ou musical, mas porque, no dizer de Vicente Fonseca, a terra querida desfruta realmente de uma privilegiada situação histórico-sócio-cultural, dada sua vocação natural de ‘pérola encantada do altivo Tapajós’, patrimônio de valor inestimável.
Quem desejar conhecer melhor a “Pérola do Tapajós”, vale a pena ler o que escreveu o maestro Wilson Fonseca na coletânea Meu Baú Mocorongo:
“Já se disse alhures que povo sem tradição é povo sem alma. E o santarenense tem alma porque desde os seus primórdios procurou fazer tradição. E a cada um de nós cabe conservá-la em todas as suas manifestações, para grandeza de nosso povo no suceder dos séculos”.
Antes da “Pérola do Tapajós” (1935), de Isoca e seus parceiros, seu pai José Agostinho da Fonseca já havia composto a belíssima “Tapajônia” (1917), com letra do mesmo Felisbelo Sussuarana. Felisbelo também é parceiro letrista de Vicente Fonseca – autor de uma série de “Valsas Santarenas” (atualmente, 81 peças) – na marcha-rancho “Rio Símbolo”, cujo texto poético é da década de 30 do século XX e a música, de 1978, mais uma homenagem ao “mais belo rio do mundo”.
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