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“Hackney Diamonds” é o título do novo trabalho dos Rolling Stones, com músicas inéditas, o que não acontecia há vários anos. Com isso, mesmo com a perda do excelente Charlie Watts, a banda se mantém em atividade e dá demonstração de vitalidade, com seus integrantes já com mais de oitenta anos! Quase como uma resposta, temos os Beatles novamente no noticiário, com o lançamento de uma gravação deixada por John Lennon em forma de “demo”, que teve a utilização da Inteligência Artificial no apagamento de sons externos que atrapalhavam sua audição. George Harrison, também falecido, já havia feito um solo de guitarra, também utilizado, cabendo a Paul McCartney e Ringo Star fazer o polimento final da balada. Enquanto isso, nossos astros da mesma geração, realizam turnês utilizando seus grandes sucessos para platéias saudosas da boa música. Milton Nascimento despediu-se. Caetano não chega a brilhar com suas inéditas, enquanto Gil viaja com a família toda pela Europa. E não custa nada perguntar por Roberto Carlos, que era infalível a cada final de ano. Bons, mesmo, são os Stones. “Hackey Diamonds” é disco de rock, competitivo, bem tocado e gravado, contando até com McCartney em uma das faixas. Paul brilha nos palcos, com seus sucessos. Hoje, até Red Hot Chili Peppers soa antigo, saudoso. Os tempos são outros. Assisto a um programa que anuncia um prêmio do Multishow, canal por cabo da Globo, tipo “Melhores do Ano”. Está difícil aturar. É certo que o sol nasce a cada dia, os tempos mudam e precisamos respeitar os que chegam, refletindo sua realidade. A Educação no Brasil é péssima e temos várias gerações perdidas. Excelentes profissionais, certamente, mas fora do seu ambiente de trabalho, gente sem muita opinião sobre nada, que não lê, assiste a filmes de super heróis que eu assistia quando tinha doze anos e ouve músicas de qualidade pífia, levantando multidões. Em tempos passados, lotávamos teatros para ouvir nossos ídolos musicais. Hoje, querem apenas gritar, pular e voltar suados para casa. Pensar, deixa pra outro dia, de são nunca. A produção instrumental melhorou muito e hoje, diferentemente dos tempos antigos, há estúdios de diferentes tamanhos mas produzindo alta qualidade sonora. Mas perdemos os estilos diferentes, perdemos uma identificação de artistas, conforme sua região de origem, sua cultura. Há uma diluição dos ritmos favorecendo um padrão de som, como um repetitivo karaokê. As melodias são infantis, até tolas e as letras, terríveis, chegando à escatologia. Onde foi que nos perdemos? Lá fora, o mundo, o mercado, continua amando a música brasileira, desde Jobim a Caetano, Chico, Milton, Gil, Gal, Bethania e tantos. Aqui não os ouvimos mais no rádio ou tv. O cartaz do show dos RHCP é a capa do disco “Tropicália”, anos 60, para demonstrar seu apreço. Posso opinar que a música atual é muito ruim, mas preciso respeitar o gosto das pessoas. Elas adoram, cantam junto. Fica parecido até ao tempo em que a classe média ouvia músicas boas e a classe mais baixa cantava bregas que circulavam de maneira pirata e tocavam em sonoros. Havia diferença de qualidade na Educação. Hoje uniformizou. Tudo virou brega.

Edu Lobo completa 80 anos e lança disco comemorativo. Quem, a não ser os de mais idade ouvirá? E aos Beatles e “Now and Then”? Há uma pequena faixa de jovens, mais antenados, que cultuam novas bandas, novos artistas que procuram novos caminhos. O Festival “Se Rasgum” é uma grande ideia. Mas seus organizadores sabem seu alcance. O som de hoje é abraçado pela grande mídia, naturalmente interessada em atingir mais público e vender seus anúncios. Um país emburacado culturalmente, mas com o início de retomar algum caminho, por parte do Governo Federal. Guerra difícil e longa. Dará certo? Pode parecer lorota, mas há jovens que não sabem quem foram Roberto Carlos, Caetano e outros. Incrível? Acreditem, é verdade. Tomara que não nos reste apenas a saudade de tempos mais cultos.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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