0

Dia desses assisti um trecho de entrevista com a Mel Lisboa, em que ela constatava a importância de pais serem “superprotetores”. Sua indicação se dava pelas marcas traumáticas da própria história, afinal quando nova (e não me recordo a idade), foi abusada sexualmente por um médico ginecologista enquanto sua mãe aguardava na sala de espera.

Imagino o cuidado dessa mãe em acompanhar a filha ao médico e ser respeitosa o suficiente para garantir sua intimidade. Mas, no meio do caminho tinha um médico homem – e não uma pedra, como no poema. Com quinze anos, passei situação semelhante, o que demonstra que essas violências são comuns, compartilhadas entre meninas e adolescentes, porém permanecendo silenciadas, seja porque não se há maturidade e informações o suficiente para reconhecer, seja por medo ou vergonha.

 Acho importante demarcar que a culpa jamais deve ser destas mães que exerciam atitudes de cuidado, inclusive ético, ao oferecer orientação, acompanhamento e espaço que acreditavam de segurança. A culpa é sempre do agressor. Por isso, não vou descredibilizar a orientação da Mel Lisboa, porque entendo do que ela diz, algo como se fosse: na nossa sociedade, nós mulheres, precisamos estar alerta.

Também acho importante afirmar que esse assunto ainda é tabu, quase não falado. O controle da sexualidade e dos corpos femininos contribuem significativamente para os silêncios. Somente agora, a temática do abuso de profissionais de medicina vem tomando repercussões, após vídeos que escancaram ginecologistas, anestesistas, dentre outros, estuprando mulheres.

Sinto muito os amigos homens, mas tenho pensado que a saída é a desconfiança. E, na dúvida, sigo com as profissionais mulheres (não vou entrar no debate de que mulheres podem ser violentas, pois aqui estou me amparado em dados estatísticos). Contudo, sabendo que muitas mulheres ainda podem sofrer essas violências, vamos de dicas de cuidados:

1- Se possível, vão acompanhadas.

2- Quem detecta gravidez é exame laboratorial ou farmacêutico, nunca é apalpar seios ou realizar toque.

3- Você não precisa tirar toda sua roupa para realizar exames. (Há batas e mantas que podem ser utilizadas para evitar nudez e exposição desnecessária)

4- Você não deve ouvir nenhuma piada ou expressão de julgamento moral quanto sua saúde, anatomia ou vida sexual

5- O médico não deve tocar o clitóris (exceto se identificado no exame visual algum nódulo – procedimentos que precisam ser devidamente informados e explicados à paciente e autorizado por ela – ou houver queixa por parte da própria paciente)

6- Tocar mamas, sem autorização ou intuito de verificar presença de nódulos (a técnica é diferente de uma estimulação do mamilo, por exemplo, a análise das mamas é com as pontas dos dedos e não com as palmas das mãos)

7- Não existe posição ginecológica de costa ou de quatro (mesmo exame na região anal é realizado com barriga para cima, joelhos dobrados e afastados)

8- Exija a presença de uma enfermeira ou técnica de enfermagem

9- Nenhum exame deverá ter uso da boca

10- Não se examina mama e genitália ao mesmo tempo

11- Nenhuma consulta pode ser filmada

12- Não duvide de seus afetos e sensações, se você sentir constrangimento, intimidação ou invasão, há algo de errado.

13- Se algo fizer surgir dúvidas, peça explicações imediatamente.

Sim, eu sei que é muito ruim termos que ficar alerta, mas informação também é proteção. Por isso, se informem sempre, mulheres. Compartilhem experiências e informações e, se violadas, denunciem. Sei que é doloroso, mas somente com enfrentamento poderemos romper com pactos de silêncio e violências.

Bárbara Sordi
Psicóloga, Psicanalista, Especialista em Psicologia Hospitalar da Saúde, Facilitadora de Círculos de Paz, Professora da Universidade da Amazônia, coordenadora do Projeto “Sobre-viver às violências” e do Grupo de estudos “Relações de gênero, Feminismos e Violências”, Mestre e Doutora em Psicologia pela Ufpa e coordenadora/assessora da Vereadora Lívia Duarte. Mãe da Luísa e Caetano, Feminista Terceiro Mundista.

Chato de Galocha

Anterior

“Mil Marias e 18 ODS” na Galeria Theodoro Braga 

Próximo

Você pode gostar

Comentários