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Qualquer parauara raiz pelo menos ouviu falar em “tirar quebranto”, “fazer uma reza”, “botar a junta no lugar”, “curar espinhela caída” ou “puxar dismentidura”. A medicina popular chinesa é reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como patrimônio cultural da humanidade com o nome de Medicina Tradicional Chinesa. Já o termo Medicina Tradicional Popular Amazônica foi cunhado pela professora da Universidade do Estado do Pará Rosineide da Silva Bentes, líder do Grupo de Estudo e Pesquisa Socioambiental na Amazônia (Gepamazon), que lança hoje o volume “Amazônia – Meio Ambiente, Qualidade de vida, Saúde e Temas Afins”, às 14h, no Auditório Central do Campus da UEPA, em Santarém. “Fizemos pesquisas e verificamos que este é o termo adequado, capaz de apreender a longevidade dessa medicina na Amazônia, criada e utilizada por populares há séculos. A denominação ‘práticas culturais’, na nossa opinião, não consegue transmitir a sofisticação dos conhecimentos e procedimentos dela”, afirma. Rosineide Bentes é Ph.D. em História Social/Política Social pela London School of Economics and Political Sciences; mestra em Planejamento Interdisciplinar Internacional de Desenvolvimento do Trópico Úmido (NAEA/UFPA) e graduada em Serviço Social (UFPA). Após o doutorado na Inglaterra (1993-2003), por cinco anos residiu nos EUA (San Francisco, Davis, Santa Cruz e Milwaukee), onde lecionou em três universidades.

A programação do campus da UEPA em Santarém inclui palestras de autores dos capítulos da Série Vidas, organizada por Rosineide Bentes, onde se insere a obra em lançamento. O livro sustenta que a saúde consiste em um propósito subjetivo que se adeque a cada ser e sua vivência e que o bem-estar humano é intimamente ligado à qualidade ambiental em seu meio.

A coleção é integrada por cinco volumes, cada um tornando visível e dando voz a um tipo ou grupo social amazônida, ou tratando de uma problemática, numa perspectiva profissional solidária e colaborativa, transdisciplinar, dialogando com os conhecimentos populares. Em 2019, Rosineide lançou “A Medicina Tradicional Popular Amazônica e Temas Afins”, com conhecimentos sobre saúde provenientes de benzedeiras, pajés, “consertadeiras”, parteiras, ribeirinhos e povos tradicionais da Amazônia.

A partir da constatação de que as “práticas de cura” presentes nas sociedades amazônicas tradicionalmente são vistas por acadêmicos como “magias” ou “práticas” culturais, a coletânea de textos, entrevistas e relatos organizada pela docente da UEPA inova ao defini-las como Medicina Tradicional Popular Amazônia, apontando um sistema de técnicas propedêuticas bem elaboradas, que correlaciona dados anatômicos, fisiológicos, emocionais e espirituais em busca de um diagnóstico, tendo a terapêutica prescrita fundamentos fitoterápicos, massoterápicos e espiritualistas. “É uma medicina holística. Por ser espiritualista, a MTPA não pode ser compreendida através da perspectiva materialista biologista da medicina alopática. Novas possibilidades de abordagens podem ser encontradas na fenomenologia e na ciência quântica. Ao atender às recomendações da Organização Mundial da Saúde, o governo brasileiro criou políticas visando ao atendimento humanizado e à inclusão de fitoterápicos populares e de algumas terapias holísticas no SUS. Contudo, a dubiedade em relação à MTPA e seus terapeutas, dificultando o diálogo de saberes, reduz os benefícios que uma política dessa natureza poderia propiciar à saúde coletiva. Outra dificuldade está na impossibilidade de profissionais de saúde formados na visão biomédica dos processos de adoecimento e cura compreenderem, cientificamente, e valorizarem os conhecimentos dos terapeutas da MTPA.

Com mais de três décadas de pesquisa interdisciplinar sobre a Amazônia, focando em visões holísticas de adoecimento e cura; meio ambiente e saúde coletiva; problemas ambientais na Amazônia, Pan-Amazônia e internacionais, inclusive de natureza e tecnologia e a apropriação e utilização da terra na Amazônia brasileira, Rosineide Bentes também é formada nas terapias Reiki I, II e III e Cura Quântica e tem experiência pessoal de mais de 15 anos com tratamentos naturalistas e holísticos. Há mais de oito anos orienta trabalhos acadêmicos sobre as práticas espiritualistas de cura baseadas no uso da natureza – ou Medicina Tradicional Popular Amazônica. De 2013 a 2018 foi membro do Parque Científico e Tecnológico para Inclusão Social: rede de pesquisa, extensão e inovação tecnológica- PCTIS/UFAM/SECIS/MCTI.

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