Publicado em: 24 de dezembro de 2024
Depois que os três Reis Magos descobriram aquele que se revelava como o quarto Rei Mago na cidade de Belém, a quem entregaram, através de seus pais, José e Maria, exóticos produtos da Pérsia que os camelos transportaram por três mil quilômetros até o esconderijo indicado pela estrela guia, o retorno a seus países, deu-se em direção oposta aos domínios de Herodes.
Na primeira noite que ergueram suas tendas, após terem ultrapassado Jerusalém, o septuagenário Belchior, completou a premonição que iniciara ao redor da manjedoura, alertando que o Quarto Rei Mago:
“Mesmo sendo aquele que governaria acima de qualquer rei que houvesse na terra. Mesmo que domine os princípios da Physis [1]que os iniciados tentarão eternamente desvendar…
… mesmo que ultrapasse os efeitos da física, da química, da biologia e da alquimia, operando milagres para o bem estar dos necessitados…
… mesmo que conheça e ensine aos homens de boa vontade os mistérios da fé como parte do plano espiritual que o Criador nos concebeu e que a matéria não ultrapassa…
… mesmo que seja o representante da maior de todas as filosofias do conhecimento humano, superando correntes, seitas e doutrinas temporárias, promovendo a manutenção da dignidade da raça humana neste mundo, Esse Rei não se livraria da ingratidão humana”.
Diante do fogo que os aquecia naquela fria noite do deserto palestino, Gaspar e Baltazar quiseram saber quais seriam, então, os destinos do quarto Rei Mago que na noite anterior havia nascido sob a constelação de Áries, entre José, Maria, criadores de carneiros e bovinos daquela encantada região.
Belchior continuou explicando aos seus dois companheiros que:
“Os dicionários do ocidente e do oriente registrarão, futuramente, que a ingratidão é a falta de reconhecimento de uma graça recebida e que os seres humanos custarão muito a compreenderem os benefícios que a Criação lhes ofertou através do Cosmo.
… o quarto Rei Mago, portanto, enfrentará os pecados da humanidade, superando falsidades, maldades e invejas, ofertando a própria vida para o aperfeiçoamento da espécie”.
Em conclusão finalizou o profético mago:
“…morrendo crucificado, humilhado por aqueles que interpretavam o mundo sob o prisma da mediocridade, haverá ainda de pedir perdão a seu Pai por todos os seres humanos no momento de sua partida desta existência: (Pai, perdoai-os porque eles não sabem o que fazem)[2]”.
Na noite do Nascimento em que Belchior anunciara os poderes do quarto Rei Mago, não dizendo, porém, qual seriam os caminhos do Redentor que agora revelava a Gaspar e Baltasar, uma lágrima escorreu no rosto de Maria como quem adivinhava os destinos de seu Filho, concebido sem pecado original, que naquele instante sorria entre a exultação dos presentes, o cheiro da relva do campo, dos estercos de carneiro e gado daquela dominada região.
Belchior não precisou dizer mais nada naquela noite.
Quando amanheceu, os três Reis Magos – proféticos sacerdotes de misteriosas doutrinas milenares – novamente continuaram seus caminhos que ainda seriam longos até às suas regiões de origem, com muitas coisas ainda a revelar, sempre em direção oposta à de imperadores como Herodes.
Com a morte do filho da maneira mais humilhante desta terra, Maria foi levada por João para a Turquia, como recomendaria Jesus na Cruz[3], diretamente para Éfeso, sudoeste da Turquia, cuja casa em que morou até a Assunção (de acordo com a doutrina católica) ou a Dormição (de acordo com a doutrina ortodoxa), atualmente é reverenciada até por Muçulmanos. 3. Jo 19,16-27.
[1]Palavra grega traduzida como natureza, significando também realidade que se encontra em movimento e transformação, fundo eterno, perene, imortal e imperecível de onde tudo brota e para onde tudo retorna.
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