Publicado em: 26 de maio de 2025
A Literatura que se faz no Pará vem ganhando mais e mais destaque, mercê dos novos escritores, muitos vivendo em cidades do interior, mas com presença de cursos de nível superior, sobretudo da Ufpa. Estive há alguns meses em Tomé Açu, para um evento que misturava lançamento de livros e conversas com escritores. A platéia sempre lotada de alunos, gente empolgada sobretudo com os estudos, naquele caso, turma de Letras, que vem revelando novos autores que partem de suas vivências, o linguajar e a realidade dos seus lugares, o que é de se festejar. É o caso de Thyago Costa, formado em Letras, pela Ufpa e que após publicar alguns contos, apresenta seu primeiro romance, “Onde se chora três vezes”, pela Editora Escambau. Natural de Breves, Marajó, mudou para Belém há alguns anos, trabalhando como professor e livreiro. O que há de excelente em sua escrita é a “pegada”, diferente, por exemplo, de Leandro Machado, de “Kaapora”, também de Breves, e de Ayrton Souza, premiado, que mora em Marabá. Thyago fala das pessoas da cidade marajoara. Do sofrimento, da solidão, da chuva constante, da fome e como isso afeta aquela gente. Os sem esperança, os que anseiam mudar-se para Belém e ter uma vida nova, mesmo em cidade tão diferente. Das crianças que deixam a infância para trás, para colaborar na renda da família, cheias de tarefas. Dos pais que abandonam. Das filhas que são vendidas. Da violência da miséria, de um lugar com cenário de paraíso, mas que vira um inferno pelo descaso das autoridades, falta de Educação, falta de empregos, dando lugar a uma desesperança terrível. Difícil acreditar em um porvir. Assim a vida é levada com melancolia, tristeza, choro e chuva, muita chuva. Senti falta de um palavreado mais regional em muitos dos contos, mas me agradaram muito as reflexões, o exame da vida dessas pessoas. É Literatura do Pará, escrita por gente jovem, que busca seu lugar ao sol e deve ser prestigiada por quem gosta de ler.
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