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Tive contato com a obra de Nelson Rodrigues muito cedo, quando meu pai, diariamente, levava para casa jornais do Rio de Janeiro e, esparsamente de São Paulo, de modo que eu e meus irmãos líamos “À Sombra das Chuteiras Imortais” e “A Vida como ela É”, por exemplo, além dos outros maravilhosos cronistas daquele tempo. Adiante, ainda moleque, estando no RJ, assistia aos domingos a “Resenha Facit”, que reunia alguns dos grandes nomes do futebol brasileiro em comentários sobre a rodada do final de semana. Nelson estava lá e posso dizer que o assisti declarando enfático “o vídeo tape é burro”. Como todos, li o “Anjo Pornográfico”, de Ruy Castro, bem como assisti peças e li livros. Agora, através do Grupo Palha, unido ao Cuíra e ao Gruta, além de alguns jovens atores, está encerrando a primeira temporada de “O que não se diz apodrece em nós”, baseada no último texto teatral de Nelson, o “Anti Nelson”. O bardo é o Shakespeare brasileiro. Ninguém como ele capturou o sentimento dos subúrbios, das pessoas comuns e seus dramas, que ele usou no teatro e em suas crônicas, que escrevia a partir de notícias populares. Montar seus espetáculos é tarefa difícil pois é preciso muita atenção ao que diz nas entrelinhas, na melodia com que as frases são ditas, equilibrando-se em uma linha tênue entre o brilhante e o sem sentido, o humor ferino. Paulo Santana, o diretor, foi hábil em misturar alguns dos nossos grandes nomes, como Adriano Barroso, Zê Charone, Mona Lisa da Paz com Pauli Banhos, Luiz Girard, Elias Hage e Kesynho Houston, este último, o mais jovem e no entanto, brilhando nesse enfrentamento de leões. Paulo conseguiu um resultado homogêneo e ao final vibramos com todos, sem conseguir destacar ninguém. Belíssima Iluminação de Sonia Lopes e excelente sonoplastia de Bella, deixando o tango flutuar sobre tudo, unindo as cenas, embalando o drama. Não os convido a assistir, a não ser na próxima temporada, porque os ingressos já estão todos vendidos, a comprovar que ao bom espetáculo nunca falta público. A precisao das cenas, o acerto nas melodias, a proximidade com o palco, servem como sedução para uma plateia que tem saído feliz das sessões. Aguardem a próxima temporada.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

Uma história leva à outra, n° 2

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