“O candidato não é um produto!
Antes fosse.
Sou profissional de marketing há tanto tempo, que já até perdi a conta. Trinta, quarenta anos, ou mais.
Aceito, com relutância, ser chamado de marqueteiro. Considero pejorativo. Aliás, acho que hoje em dia todo mundo acha a mesma coisa, principalmente em época de eleições.
Aviso aos navegantes: essa coisa “eleitoral” que está nas ruas, na tv, nos jornais e nas rádios, não é marketing.
Marketing é aquela atividade essencial que está por trás de todo produto ou serviço e que torna a vida moderna exequível.
É invisível. Vive da satisfação das pessoas, de resultados. É o elo entre a produção e o consumidor. É via de mão dupla. Necessita de métodos, ética, conhecimento, suor e toda a criatividade do mundo.
Quando você pede, na lanchonete, o seu refrigerante preferido, e ele está à mão, não é por acaso. Há todo um exército de profissionais por trás para que isso aconteça.
Assim é também com o shampoo, o sabonete, a cerveja, o chocolate, o cinema, o teatro, a viagem de férias, enfim, tudo o mais que nos rodeia.
É o que chamamos de marketing-mix, ou, se preferir, composto de marketing.
Publicidade, design, venda, distribuição, rp, assessoria de imprensa, decoração, vitrinismo. Isso é apenas uma pálida ideia do que acontece e é, porque tem que ser, imperceptível.
Por outro lado, cada uma dessas atividades tem seu próprio mix, que se abre em uma reação em cadeia interminável, mas rigorosamente harmônica.
Costumo abstrair o termo serviço. Para mim, só há produto.
Tangível e intangível.
Desta maneira, o que vi na campanha eleitoral para presidente da República e para governador do Estado foge a todo o entendimento que tenho de ética, moral e profissionalismo de mercado.
Até concordo que uma pessoa, um candidato, não é simplesmente um produto, mas você há de convir que é bem pior, do ponto de vista do consumidor final.
Não tem bula, não exibe a fórmula, não tem sac, não é amparado pela Lei de Defesa do Consumidor, não se aceita devolução e não tem garantia de funcionamento.
Se fosse encarado simplesmente como um produto, sua campanha publicitária teria minimamente que seguir as regras do CONAR. Não se exaltam as qualidades de um produto, salvo execráveis exceções, apenas desancando os defeitos do concorrente. Reais e imaginários.
Acho, até, que para continuar assim, caberia a determinação de um horário mais avançado, em que as crianças e mesmo os jovens estivessem dormindo, para não influenciar negativamente em sua formação de caráter. Não é bem isso que queremos ensinar aos nossos filhos no trato com os colegas de colégio na primeira disputa que surgir, e vai surgir, no esporte, no grêmio escolar, no namoro.
Sou um profissional de marketing, repito, não sei fazer publicidade, assessoria de imprensa e outras coisas mais, imprescindíveis ao sucesso do produto, mas costumo brigar, e brigar bonito pelo meu produto, pela imagem da empresa que o vende ou fabrica, e jogo limpo.
Minha arena é o mercado e não gostaria de ser confundido com um marqueteiro qualquer.
Tenho esperança de que esta seja a última campanha eleitoral neste nível, deste quilate. Tenho certeza que os colegas que atuaram de alguma maneira no processo pensam o mesmo.
Seria uma injustiça julgar-nos por isso que está aí.
O marketing ainda é essencial para o mundo da livre escolha, e do estilo de vida que o povo exige e merece. Para todos. Sem preconceitos.
Com ética.
andré@terradomeio.com.br”
(André Costa Nunes, escritor, marqueteiro, blogueiro e restaurateur, no seu blog Tipo assim… folhetim.)