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“Na noite da última sexta-feira, 17/02, mais uma colega jornalista foi vítima de violência em Belém. E não foi uma violência qualquer, foi uma tentativa de feminicídio, uma agressão de natureza doméstica e familiar e de gênero. Para além de debatermos o necessário enfrentamento do sexismo e do machismo em nosso País, é necessário apontar a revitimização em manchetes da imprensa. Substituir o rosto do agressor pelo da vítima em capa de jornal para estampar que ela é repórter do jornal concorrente, expondo seu nome e sobrenome, fez com que a profissão e o emprego dela ganhassem mais importância do que o crime ocorrido. Da mesma forma, expor a imagem da vítima em portal de notícias, mesmo que ao lado do criminoso, mas fazendo o uso da tarja preta não passa de “ética de açougue.” A tarja não esconde nada e, historicamente, foi usada para supostamente preservar a imagem de adolescentes em conflito com a lei. Afinal, que crime a vítima cometeu, nesse caso? O de ser mulher? Ser jornalista?

Nós jornalistas, empregados de grupos de comunicação que se digladiam no cotidiano, somos instrumento dessa disputa no trabalho e até quando somos vítimas. É necessário reavaliar a nossa conduta de trabalho, focar a ética na profissão, o coleguismo e a autopreservação de uma categoria já massacrada por assédio, injustiças e precarização.

Aliás, em situação anterior, em que a vítima de tentativa de feminicídio foi repórter do grupo adversário, o mesmo que estampou agora o rosto da nova vítima, a postura dos colegas de imprensa foi completamente distinta. O nome e a imagem da jornalista foram preservados, causando surpresa a reação adversa, agora, o que só contribui para o desentendimento entre a classe. Da mesma forma, postagens em redes sociais que expõem a vítima também só contribuem para reafirmar a falta de ética e de solidariedade. Felizmente, nem todos os jornalistas partilham da mesma opinião e, pautados na ética e na defesa dos Direitos Humanos, se manifestam publicamente em repúdio à situação colocada. 

No caso desta sexta-feira, a jornalista vinha sendo acompanhada pelo Sinjor-PA devido a perseguições que estava sofrendo. Temos notícia de que o quadro da colega jornalista é estável e que o agressor, que também está internado, vítima da agressão popular, já teve o flagrante de prisão lavrado contra si. 

Nós, do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor-PA) e da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), estamos solidários à jornalista que foi vítima de tentativa de assassinato em Belém, e continuaremos atentos às posturas de veículos e jornalistas sobre o episódio, não estando descartadas providências jurídicas futuras, bem como estamos empenhados que o criminoso seja punido e a segurança da jornalista seja garantida.

É importante lembrar que o Sinjor-PA tem uma Comissão de Direitos Humanos, que foi criada, exatamente, para tentar reduzir as violações de direitos humanos no exercício do jornalismo. E esse é mais um caso de violência contra a mulher, publicado de forma desrespeitosa pela imprensa às vésperas do Dia Internacional da Mulher, demonstrando que há necessidade de uma mudança urgente de conduta por parte dos profissionais e veículos de comunicação. Os interessados em participar da Comissão podem comparecer na próxima quarta-feira (22), às 18h, na sede do Sinjor-PA”
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, presidente da Academia Paraense de Jornalismo, membro da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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