Bragança terá uma vasta programação cultural neste sábado, 25, com a Mostra Aldir Blanc dos Caetés, de onze projetos premiados. O evento começa às 16h, no Centro Cultural da Vila Que Era, núcleo originário da cidade, a mais antiga do Pará, alcunhada Pérola do Caeté.
A iniciativa parte de diversos espaços culturais e uma rede de artistas bragantinos ou moradores da cidade e região que se uniram para realizar essa programação, resultado de um processo emergencial da cultura brasileira em meio à pandemia. Inclui Teatro, Artes Visuais, Artes Integradas e de Museus e Memórias de Base Comunitária, além de um Prêmio Preamar.
O vídeo documentário “O Poder de Transformação da Arte”, contemplado pelo edital de Artes Visuais, pela COOMARCA (Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis dos Caetés), sob a coordenação de Ana Raquel Leite, mostra o processo do projeto que fez da fotografia e do bordado ferramentas para a produção do autoconhecimento e autoestima, através da reflexão sobre o corpo e os estigmas sociais, considerando a vivência das catadoras de materiais recicláveis no município de Bragança.
Já o “O Corpo Preto na Tradição Capoeira Angola”, proposto por Bárbara Haffyella, reúne fotos performances criadas coletivamente com o Grupo de Capoeira do instrutor Cajuí de Bragança, a partir de formações em oficinas e diálogos sobre identidade cultural e a origem da capoeira.
Outro trabalho é o Ecomuseu do Espaço Cultural Casa da Mata, sob a coordenação de Kelle Cunha, que criou um museu ecológico no espaço cultural “Casa da Mata”, na localidade do Camutá, município de Bragança. O resultado também é um videodocumentário sobre o processo de construção do Ecomuseu e bate-papo com a comunidade.
O Encantarias de São Benedito: performances visuais do Santo Preto em comunidades de terreiro, de Mayka Melo, atuou em dois terreiros bragantinos, o Terreiro do Pai Raimundo na Vila Cuera e no Terreiro do Pai Kauê, em Bragança. O projeto articulou a sabedoria tradicional da região bragantina com o fazer artístico visual contemporâneo através de recursos fotográficos e audiovisuais. O resultado foi a produção de fotos performances e vídeo performances que detalham artisticamente a relação entre o santo da igreja católica e as encantarias das tradições indígenas e africanas na Amazônia.
O “Recanto das Nossas Ancestralidades”, de Maria Eloide, desenvolvido na Vila Que É, reconheceu e valorizou o espaço cultural onde são desenvolvidas as atividades de produção do artesanato e cursos e capacitações para os moradores. Além da reforma do espaço comunitário, a realização de oficinas de design de cestaria, formação de base comunitária, autogestão e educação patrimonial, o projeto também resultou em um documentário sobre o processo de construção e manutenção do espaço cultural e as histórias das artesãs locais. Neste sábado, haverá exposição e venda da produção artesanal, além de roda de conversa sobre processos de construção identitária local.
Já o Festival Quilombola, realizado no Quilombo do América pela Associação Remanescente da Comunidade Quilombola do América, constituída em sua maioria por mulheres que trabalham com serviços domésticos, na roça e em produções artesanais, vai exibir vídeos das oficinas e ensaio fotográfico; exposição e venda de produtos artesanais das mulheres quilombolas; e também vai ter roda de conversa. A iniciativa promoveu a capacitação dessas mulheres para a produção de bonecas de pano, tapetes, colchas de cama, sabão artesanal e tranças afro, além de eventos como o desfile e ensaio fotográfico com as mulheres da ARQUIA e rodas de conversa sobre a valorização e empoderamento da mulher quilombola.
Na área cênica, o projeto Histórias de Quintal é um espetáculo de rua infantil, um monólogo, escrito e protagonizado pelo ator paraense Paulo César Jr., que narra de maneira lúdica as brincadeiras, histórias e aventuras do personagem Juninho, um menino de 8 anos, que vê o seu quintal como um lugar onde tudo é possível dentro das pluralidades das infâncias na Amazônia contemporânea. Nas suas aventuras pelo mundo ‘quintalesco’, ele ajuda o Curupira, vira amigo do Príncipe da Lua, explora as profundezas de um igarapé, participa de um baile de carnaval, sobe em árvores e empina pipa.
A exposição fotográfica “Do mar às telas” retrata a beleza de elementos do cotidiano dos moradores da comunidade da Vila dos Pescadores de Bragança, pelo olhar poético da fotógrafa Thais Martins, que revela costumes e saberes das populações e o encanto do local, em seu dia a dia.
Já Ynstalação Cabokètyka – Corredora, de Pedro Olaia, foi desenvolvido a partir de uma vivência na Casa da Mata (Ecomuseu) com o coletivo Cabokètykas, que produziu um roteiro cênico para ser mostrado de forma presencial, mas que devido à pandemia foi adaptado para uma videoperformance artística e ao mesmo tempo didática, sob a temática LGBTQIA+ na Amazônia. No vídeo são apresentadas pulsações, incômodos, gritos, gargalhadas e feitiçarias de corpas dissidentes próximas da ancestralidade acabocada vinda de pretas e indígenas que viveram antes de nós e que se relacionam com questões de gênero e sexualidade fora do padrão cristalizado do binarismo cisheteronormativo.
“Todos a bordo: turismo e educação patrimonial nos estaleiros artesanais de Bragança e Augusto Correa” fez um inventário participativo dos estaleiros artesanais dos dois municípios para construção de roteiros para visitas guiadas de estudantes, trazendo falas dos artesãos sobre a memória desses espaços.
Por fim, a Websérie Saber Bragança, com direção de San Marcelo, realizador que também aprovou um curta metragem no edital de audiovisual, com data de estreia em outubro, mas que neste sábado mostra quatro episódios da série documental, que contam a história e oralidade de tradições culturais e seus respectivos mestres mantenedores da tradição.
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