0

Acabaram mais uma vez as férias de julho e para muitos jovens, também deve ter iniciado um novo momento de vida. Desafios, amores, lideranças, muito acontece nesses 30 dias de férias onde, sob sol intenso ou longas madrugadas, eles se encontram nas praias sem nada para fazer a não ser aproveitar a juventude. Ah, se soubessem que é o melhor período da vida!

Quanto a mim, lembro, depois de passar a infância e adolescência no Mosqueiro, traí a ilha miseravelmente por Salinas, obedecendo às ordens de um amor. Mas Mosqueiro nunca saiu do meu coração. Li Paulo Faria, que lá está morando escrever a respeito. Eu também vi muita coisa e por ser mais velho, vi e vivi mais detalhes. A ida e a volta no navio Presidente Vargas, belo, navegava antes pelo Mediterrâneo. A saída do galpão Mosqueiro-Soure. Ia bem na frente, pegando vento, olhando a quilha romper a água de maneira elegante. Quando chegava, uma correria. Minha mãe comandando seus filhos capetas e cuidando das bagagens. Entre malas havia uma, bem pequena, com o cartaz pregado “Farmácia”, porque naturalmente, havia arranhões, cortes, machucados em geral. Havia uma camionete inglesa, de propriedade do Sr.Cecy, que levava a gang para a casa “Celina”, de meus avós, no Farol. Casa ampla, avarandada, quartos e um quintal imenso de ponta a ponta das ruas. A energia elétrica ia embora depois das dez e acendiam candeeiros. Aos primeiros raios de sol, praia! Reencontrávamos velhos amigos, bem, não tão velhos assim, mas a cada ano, alterações de comportamento, de criança para pré e depois adolescentes. Isso mudava completamente o mundo. As meninas passavam e estendíamos o olhar para o horizonte infinito, sonhando o que ainda nem sabíamos como fazer. Havia festinhas quase diárias por aniversários nas casas, todas de classe média. O inesquecível Sr. Rubem Ohana carregava todas as meninas na kombi e onde chegava era festejado. Uma vez, ainda de olhos fechados, ouvi minha mãe sussurrando, enquanto arrumava algo que levaríamos a Belém, para onde voltaríamos por um dia, talvez por alguma consulta, sei lá. Seis da manhã, sol nascendo e nós aguardando o ônibus que nos levaria à Vila e ao Presidente Vargas. Não esqueço. Como um filme. Já era bem espertinho e havia transporte de balsa para Mosqueiro, antecedendo a ponta. Minha avó prometera, inadvertidamente a mim, que após atravessar, eu poderia seguir dirigindo seu fusca até a casa. Cobrei, dirigi, mas eles precisaram se deitar um pouco ao chegar, após tanta emoção. Meu avô não ia à praia. Quem sabe, intelectual não vai à praia? Sentava em uma cadeira de embalo e saudava as famílias conhecidas que passavam em direção à areia. Alguns paravam para conversar. Nos finais de tarde, havia mais um encontro na pracinha do Farol. Todos muito jovens, desenvolvendo seus potenciais. As festas no Netuno Iate Clube, com a Esmeril Band tocando. O saudoso Dentinho trocando provocações com Bufalo, ex-lutador de luta livre, agora como porteiro. E adiante, a Ressaca onde já mais corajoso, tirava meninas para dançar, claro, após muito estudo do terreno e escolha do momento propício. Na época, apaixonado, minha música era “F..come Femme”, de Adamo. Meu pai montou uma quadra de vôlei no quintal e virou Maracanã. Eu saía antes porque ia começar a pelada na praia e não podia faltar. Enfim, era muito intenso. Hoje, sei que é minha Camelot. O lugar dos sonhos e da felicidade. Vou lá em dia de semana, fugido. Ando pela casa, que não é mais da família, passo lentamente pela praça, até o Hotel de Dona Adelaide como que em transe. Ando vendo todos os amigos, os amores, meus irmãos, gente que nunca esqueci. Eles passam alegres, jogando peteca, de bike, nenhum sentado fixado em celular. Olho para a praia e miro na Ilha dos Amores, onde quero que joguem minhas cinzas. No Mosqueiro, fui feliz. Fui muito feliz.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

Gatos olímpicos

Anterior

Os imiscíveis em Santarém junto com “Seu Zé”

Próximo

Você pode gostar

Comentários