0
 

Gosto muito de ler sobre a Guerra Civil na Espanha, que aconteceu entre as duas Grandes Guerras Mundiais, na primeira metade do século XX. Na maioria das vezes, os protagonistas foram os republicanos, que angariaram simpatias e um certo romantismo que fez com que artistas como Ernest Hemingway e muitos outros fossem lutar pelo que acreditavam ser a liberdade, e com o assassinato de gênios como García Lorca, com Picasso pintando Guernica, enfim. Tempos românticos em que travavam combates durante o dia e à noite encontravam-se nos bares para noites sem fim e amores urgentes. Este “Madri 1940” é exatamente sobre a turma do outro lado, os vencedores, os fascistas. E o mais incrível é que mesmo lendo fatos tenebrosos de extrema violência, falta de compaixão, com pessoas descendo ao mais baixo nível de comportamento humano, a Literatura é excelente e nos prende do início ao fim.
Francisco Umbral, escritor espanhol que causa furor em seus livros e ganhador dos dois principais prêmios de literatura da Espanha, o Príncipe das Astúrias e o Miguel de Cervantes é o autor que escreve sobre um falangista, alucinado seguidor de José Antonio, que criou a Falange, facção do fascismo e foi fuzilado logo no começo da guerra quando Franco, o ditador, iniciou seus trabalhos e claro, não queria concorrentes. O crime foi encoberto e José Antonio começou a ser chamado de “O Ausente”. O falangista é um jovem chamado Mariano Armijo, louro, bem ariano, fã de Hitler e que se irrita quando Franco hesita e resolve ficar neutro, ao invés de aderir a Hitler e Mussolini. Frequenta a noite, bares onde se discute política, namora mulheres, inclusive por conveniência uma coroa deslumbrante, que por sua vez é amante de um ministro e fazendo jogo duplo, escreve em um jornal franquista, passando depois a ser dedo duro, livrando-se de adversários e inimigos pessoais, além dos comunistas e que tais. De vez em quando relata o número de fuzilados ou presos, como um placar de futebol e o livro segue feito um diário de façanhas onde o personagem é farto em adjetivos negativos a todas as pessoas que se destacam naquele cenário, inclusive falangistas que aos poucos vão aderindo aos franquistas. Armijo é péssimo e sem caráter, sendo o mais baixo a que chega é fazer sexo com mulheres recentemente mortas em torturas, após molhar a mão dos funcionários do necrotério. A guerra continua, Hitler vai à Russia e começa a perder. Fala mal de Mussolini, sonha com um mundo ariano, sem doentes, pobres e loucos, enfim, tudo de mal. Mas a Literatura, poxa, o cara é ótimo, seus comentários, quanto piores, melhor são escritos. Umbral nos leva para o lado mais impopular, porque a Arte despreza o fascismo, a violência a idolatria a chefetes com uniforme militar. Ele nos apresenta esse outro lado terrível e uma Espanha entre crimes, pobres, desamparados e novos ricos que se aproveitam do ambiente. Só posso dizer que é muito bom. Recomendo.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

Acidente na rodovia para Salinópolis

Anterior

Colisão no centro de Salinas

Próximo

Você pode gostar

Comentários