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Foi aprovado hoje pela Assembleia Legislativa, em segundo turno e em redação final, o projeto de lei nº 06/2021, de autoria do deputado Raimundo Santos, que declara integrante do Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado do Pará a tradicional “Luta Marajoara”.

Em sua justificativa, o parlamentar, que é Ouvidor-Geral da Alepa e presidente da Comissão de Redação Final, salientou que a “Luta Marajoara”, também denominada “Agarrada Marajoara”, vem ganhando projeção mundial através da organização de MMA (“Mixed Martial Arts”, ou “Artes Marciais Mistas”) conhecida como UFC (Ultimate Fighting Championship) graças à participação e divulgação de atletas como os irmãos luri e IIdemar Alcântara, que foram os precursores da modalidade nos ambientes de combate, os octógonos, e agora Deivson Figueiredo, alcunhado “Deus da Guerra”, em referência a um personagem do popular jogo eletrônico de ação/aventura, e Francisco Figueiredo, o “Sniper”.

Para Raimundo Santos, a importância desse esporte remete a fatores antigos, refletindo costume marajoara, e é preciso oferecer condições para maior valorização e prática nos dias atuais, inclusive em nível acadêmico/educacional. De acordo com estudos e referências literárias, iconográficas e materiais audiovisuais, a “Luta Marajoara” é um tipo de duelo característico do corpo a corpo, semelhante ao “wrestling”, sendo caracterizada como um estilo dessa luta livre norte-americana, na qual os lutadores competem sem armas e tendo como objetivo projetar o corpo do oponente de costas ao chão e dominá-Io.

Já há um consenso entre os seus conhecedores de que se trata de “luta constituída e desenvolvida por populações locais marajoaras e transmitida de geração em geração por intermédio de eventos e fomentadores que encontraram na disseminação uma oportunidade para apresentá-Ia ao território nacional”. Dados técnico-historiográficos revelam que, por mais que inexistam achados científicos e precisos para o surgimento da Luta Marajoara, é possível que sua origem tenha sido a partir de elementos socioculturais alusivos a negros africanos e indígenas, bem como “o entrelaçamento de suas experiências e saberes ocorridos na região marajoara”.

A perpetuação por gerações, durante a história da região do Marajó, expressa tradição e presença até os tempos atuais no arquipélago. Dário Pedrosa, reconhecido profissional de Educação Física e árbitro de Luta Marajoara, define esse tipo de arte marcial como sendo a “única modalidade de combate corporal legitimamente brasileira”. Oriunda das práticas de lazer dos caboclos da região do Arari, no arquipélago do Marajó, ela reúne características semelhantes a outras artes marciais, como a luta greco-romana, por exemplo, e, pela força que demanda dos oponentes, até ao sumô. Diz-se que a Luta Marajoara foi praticada originalmente no Marajó, sendo disputada entre dois atletas por vez, não permitindo nenhum tipo de ato contundente com os membros, como socos, chutes, cotoveladas, estrangulamentos, chaves ou traços. Em sua natureza de disputa, a Luta Marajoara é apontada como a menos violenta entre as artes marciais, o que possibilita a interação com todos as faixas etárias. É verdadeiramente uma “luta suave”, em que os adversários buscam, tão-somente, o desequilíbrio e a projeção um do outro.

Raimundo Santos destacou que, nos últimos anos, o campo educacional tem se mostrado interessado em discutir e adotar a Luta Marajoara no âmbito da Educação Física. A Literatura cita as práticas do povo indígena Aruá e a influência dos escravos africanos na sua criação, mas também há considerações, tidas como pertinentes, segundo as quais a modalidade foi influenciada pelas ferozes brigas entre búfalos, observadas e reproduzidas por caboclos, passando então a ser tradição em programações de festividades religiosas. Outros textos citam que “as teses se fundem numa única dentro do contexto do lúdico, quando a prática ainda era chamada com frequência pelos nomes de ‘agarrada’, ‘cabeçada”, ‘lambuzada’ ou ‘derrubada’ – registrados ainda hoje nas localidades de Cachoeira do Arari e Santa Cruz do Arari, possivelmente berços dessa arte, e depois em Salvaterra, Chaves e principalmente Soure, onde, devido à grande incidência de atividades pecuaristas, predominou a cultura da criação de búfalos.

Diz-se também que, “fundindo o religioso ao profano, praticantes da luta marajoara medem forças literalmente na lama das primeiras chuvas do ano em meio ao inverno marajoara, no mês de janeiro. Com a chuva, forma-se grande quantidade de lama pelas ruas da cidade, e é lá que a lambuzada se faz presente. Os lutadores sujam-se, uns aos outros, na lama considerada ‘abençoada”‘. Há registros de que só a partir da metade da década de 1990 ela recebeu a atual denominação, “Luta Marajoara”, em razão da iniciativa de órgãos públicos que passaram a promover torneios com atletas devidamente treinados e com premiação aos campeões. Desde então, o “elemento lúdico” foi substituído pela prática desportiva de rendimento em si, com regras específicas e arbitragem para mediar os combates, dispondo ainda de preparadores físicos, além de mais estudiosos, como Leandro Gavinho, João de Deus e Dário Pedrosa, que exerceram a função de árbitros.

Existem dois tipos de Luta Marajoara, a “tradicional” e a “esportiva”. A tradicional é praticada nas fazendas da região, em solo com areia, argila ou grama (para evitar grandes lesões), e a esportiva, nos eventos organizados por prefeituras, e conta com apoio de organizações que a regulamentam e organizam torneios ou campeonatos.

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