Publicado em: 25 de maio de 2025
O filho do seu Albino e de dona Leopoldina Gondim da Cruz – Leonam do mesmo sobrenome – foi homenageado por 100 anos de vida que faria entre nós, se aqui estivesse, embora vivo esteja em nossa memória, na sede da Academia Paraense de Letras, por proposta da imortal, Franssinete Florenzano, jornalista como o homenageado.
Impedido de participar do evento, estando fora do Estado, à família e aos amigos, quero dizer umas simples palavras ao confrade imortal, professor, magistrado, ensaísta e poeta, Leonam Cruz, deliberadamente, porque entendo que homenagens também se estendem para fora das luzes do anfiteatro solene.
Me refiro ao mestre, em seu centenário, pela amizade mantida com meu pai Eládio Malato, também jornalista, e pela admiração que por ele ainda tenho ao longo das suas jornadas profissionais, capazes de ensinar, igualmente, o que meu pai dizia: “a humildade questiona a soberba”.
Sua maior qualidade, desenvolvida em toda a sua carreira com várias premiações, foi a de humanista, denominação tão esquecida nos dias atuais, mas que representa um universo pessoal de qualidades individuais e coletivas num só tempo.
Na época do iluminismo europeu, os valores do humanismo foram reforçados, estendendo-se aos campos das disciplinas humanas e artísticas, alcançando, posteriormente, os valores das ciências.
No início do século XX, o humanismo se expandiu pelos Estados Unidos, ganhando os caminhos do mundo e atualmente, neste século, apresenta seu maior conteúdo que é a defesa da liberdade, dos direitos humanos e da evolução social que muita gente esqueceu.
Diretamente inspirado na filosofia iluminista que derrubou dogmas obsoletos e crenças hipócritas que ainda perduram em agentes disfarçados de humanitários, o humanismo é a própria essência da natureza humana. Leonam Cruz sabia disso.
Na vida profissional desse advogado, com atuação em muitas áreas culturais, estava o humanismo da melhor espécie e, sobre isso, conversávamos muito, tanto na Associação dos Advogados Criminalistas do Estado do Para, como na sala da assessoria da Presidência do Tribunal de Justiça onde fui inicialmente assessor, sobre esse viés humanitário que deveria habitar muitas decisões judiciais. Deliberações, muitas vezes, afastadas da própria natureza humana, frustrando advogados já frustrados com nossa justiça, como também jurisdicionados decepcionados com a frieza de algumas leis como se não fossem produto da razão humana.
Conversava sempre em pé, alegando outras tarefas lhe esperando, dizia, também, que se sentasse teria que aceitar outro café, pois já havia tomado, mas era a humildade, na verdade, com que ele se fazia aceitar, desfazendo qualquer barreira, mesmo a das autoridades supremas que tanto soube convencer com seu discurso jurídico-filosófico.
Por acaso, nem imaginava que dessa trajetória, tantas vezes embargada por terceiros, haveria de obter preciosos herdeiros julgando e desembargando outras causas, no mesmo viés humanitário.
Voz calma, pacificador por natureza, sabedoria de quem deixa o tempo passar para avaliar, percepção da verdade tão incrustrada em conversas interesseiras, habilidade no decorrer das ações e cuidado na materialização das intenções.
Sobre o ser humano, em suas imperfeições, prefaciou num poema assim: “Dizem que o homem, um dia foi macaco, mas assim no meu verso, o vejo assim como um caco, mas certo seria o inverso”
Assim foi Leonam Cruz, que saía dos ambientes como se fosse voar para seu ninho especial, onde a justiça verdadeira põe ovos. Assim foi esse pássaro cruzador transoceânico, de tantas linhas enviesadas, difíceis, embaralhadas pelo poder que ainda atenta contra a natureza humana, assim foi esse mestre que nossa memória ama.
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