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Às vésperas da posse do presidente Donald Trump estou nos Estados Unidos, mas não tenho convite para a cerimônia do polêmico presidente, vim para ver meu neto americano, Jax Paul, de 08 meses, e por alguns momentos me perder em devaneios, mostrando o esquilo na árvore, o avião que passa sobre nossas cabeças, marionetes temáticas e tocar violão para ele se distrair.

O norte americano é muito prático, tudo aqui tem começo, meio e fim, mas já ofertei a Jak um livro sensibilizado na própria acepção da palavra, desses que a criança vê as cores, o tema, e sente, no tato, as espessuras da arte no papel. As livrarias americanas são inacreditáveis.

O livro continuará por muitas gerações, aposto nisso, porque se o papel mentir não se pode apagar e nem se transformar como na internet. Facilitações perigosas, por sinal, neste mundo de mentiras, ofensas fáceis e impunes às pessoas de bem.

Em uma livraria daqui de Orlando, a Barnes & Noble, me deparo com um livro de edição explicativa dos traços da obra do pintor tcheco, Afons Mucha (1860-1939) que, por si só, alcançaria o limite de peso estipulado pela companhia aérea, se não fosse eu presentear meu neto.

Teimoso, diante de situações como essa, prefiro comprar do que perder. Quem os lerá, além de mim, neste mundo tecnológico? Mostrarei ao Jax para ir se deslumbrando com o desenho harmonioso do Mucha e eu me despedindo do livro. Vim trazendo a obra completa do Tarzan de Edgar Rice Burroughs, desenhado pelo magnifico americano Russ Manning. Recomendei ao pai dele, Renan, meu filho, muito cuidado com essa edição limitada.

Quando ele dorme, aproveito para me dedicar às tarefas de escrever, por exemplo, o prefácio da obra de uma grande escritora paraense sobre Belém do Pará. Mesmo nos Estados Unidos, escrevo imaginando, há 409 anos, a chegada de Francisco Caldeira Castelo Branco, em 11 de janeiro de 1616, com 15 homens e dez peças de artilharia, primeiramente à Ponta de Itacoan, atual Icoaraci, depois, em 12 de janeiro do mesmo ano, aportar na Ponta do Piry, onde seria mais tarde nossa querida Belém do Pará.

Os caminhos da pessoa são incertos, a destinação idem, e o tempo vai passando e nos reduzindo ao meio da evolução do mundo que se apresenta cheio de percalços, ilusões, felicidades e decepções, uns, indo, e outros, vindo, assim caminha a humanidade, parodiando o filme americano de 1956 com o famoso elenco com Rock Hudson, James Dean e Elizabeth Taylor.

Fico me perguntando quais serão os passos de meu neto em uma época que se descobrem inúmeros exoplanetas com condições de vida igual a terra, em que filmes de ficção científica se tornaram realidades e num momento em que o ser humano ainda não se livrou do egoísmo e da maldade. Como ele acordou neste momento, deixo o futuro incerto para a própria vida, apostando nas ações otimistas e volto a me dedicar à realidade do presente. Ao lado desse americaninho de sangue amazônico.

Ernane Malato
Ernane Malato é escritor, jurista, humanista, mestre e doutorando em Direitos Humanos pela PUC/SP e FADISP/SP, professor e pesquisador da Amazônia em diversas áreas sociais e científicas no Brasil e no exterior, membro das Academias Paraenses de Letras, Letras Jurídicas, Jornalismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Estado do Pará, atualmente exercendo as funções de Cônsul Honorário da República Tcheca na Amazônia.

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