Mario Sobral nasceu no meu bairro, Umarizal, Belém do Pará. Junto com meu pai, Eládio Malato, também jornalista, trocava ideias na sala da nossa casa com muitas risadas, ambos de jornais distintos, mas unidos por seus talentos individuais.
Em 1979 fundou o tabloide “PQP – Um jornal para quem pode” e ainda escrevia o Jornaleco que ninguém perdia.
Estilo popular, enriquecido por humor e ironia que muitos estranhavam na provinciana Belém dos anos 70, Sobral se tornou profissional singular no estilo anárquico-erótico-social, com linguagem regionalizada. Em característica parecida, período mais curto, atuava o parauara Euclides Chembra Bandeira. Formaram um delicioso tempo de liberdades expressivas humorísticas que Sobral manteve até o fim da sua vida.
O Brasil ainda se deliciava com a ironia de Stanislaw Ponte Preta, falecido em 68, do Millor Fernandes e do Jaguar do Pasquim quando Mário Sobral se destacava com seu fabuloso anfiteatro idiomático satírico no jornalismo paraense.
Dentro de um imaginário de personagens sociais por ele criado, como a Dona Cotinha e o Ocrides Candiru, Mário sobral confrontou sem armas um jornalismo rígido, sisudo e censor que até hoje vigora no cenário nacional. Abriu oportunidades a cartunistas configurarem a sua criação e isso valorizou muito mais a importância da sua obra.
Nessa linha de ironia sarcástica, se auto proclamou “Comendador da Ordem do Macaco Torrado” e obtinha reverência de nobreza tupiniquim por todos os que lhe admiravam. Sua obra foi levada ao teatro com muito sucesso e tornou-se o tema da Escola de Samba “Quem São Eles”, com o enredo: “O Escambau Ilustrado do Comendador”, no carnaval de 1987.
Em 2022, a Academia Paraense de Letras abriu as portas para Mário Sobral como novo imortal, em reconhecimento ao seu talento. Tive a honra saudá-lo da tribuna desse Silogeu para o alto de sua cadeira de rodas, ilustrando meu discurso num contexto em que Ocrides Candiru solucionava a iniciada guerra entre a Rússia e a Ucrânia, emocionando o novo imortal.
No jornaleco que ele fazia, havia um cronista chamado “Clavino Dias” com saborosas histórias, mas ninguém sabia de quem se tratava e nem o Mário revelava. Quando meu pai faleceu, Sobral me contou que “Clavino Dias” era o meu genitor, escrevendo com esse heterônimo. No dia da partida de meu pai, 1982, Mário escreveu um lindo artigo intitulado: “Inté compadre Malato”.
Agora, o Comendador se prepara para outro título, sendo recebido pelos jornalistas que partiram, meu pai no meio desses, provavelmente. A equipe divina do céu, por sua vez, também estará esperando pelo escritor, na expectativa de suas histórias engraçadas, porque Deus é o primeiro quem ironiza sua atribuída austeridade, sempre ensinando que a vida e bela e o riso prenúncio da felicidade.
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