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O título é por lembrar do livro do escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do jornalista Rubens Paiva, morto pela ditadura militar que ainda sombreia descendentes planejando golpes de Estado.

Marcelo escreveu “Feliz Ano Velho” (1982), para contar que possuía uma família feliz e que os anos que se renovaram foram tristes, pelo desaparecimento de seu pai e o acidente que o deixou tetraplégico.

Aqui escrevo “Infeliz Ano Velho”, parodiando o escritor, em razão da frustrada reimplantação do regime ditatorial no Brasil, mirando a Democracia e ameaçando direitos individuais conquistados pela Constituição de 1988.

Escrevo para dizer o quanto um ano pode ser tornar infeliz lembrando da morte de muitos brasileiros pela epidemia do Covid 19 submetidos a ideias assustadoras e pela inconsciência ambiental praticada na Amazônia, ameaçando a humanidade.

Escrevo para lamentar o quanto ainda estamos divididos na política do ódio e do negacionismo, entre verdades e mentiras, nesta imensa Nação.

Escrevo para desejar que o ano de 2025 traga mais felicidade ao povo brasileiro, proximidade de ideias e harmonia em favor do nosso desenvolvimento, independente de ideologias.

Somos a democracia que alguns não entendem, somos o país do golpe de Estado e do golpe do Estado contra seus contribuintes sangrando entre taxas e impostos. Do golpe na internet e do golpe contra a segurança pública.

Somos o país da oscilação do ser político social revelada na admissão dos direitos humanos alinhavados na vida jurídica nacional e esse é um triste dado nos infelizes anos da história.

A Carta de 1824, outorgada por D. Pedro II, se dobrando à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, previu a garantia dos direitos fundamentais.

A Constituição de 1891 que transformou o Estado Unitário em Estado Federativo, manteve a garantia dos direitos fundamentais, mas sem política protetiva.

A Carta Magna de 1934 instituiu avanços como o direito de votar das mulheres, mas a de 1937 vilipendiou os direitos humanos com a suspensão da liberdade de ir e vir, a proibição de reunir e a censura de correspondência.

A Carta de 1946 aceitou direitos humanos impondo a obrigação do Poder Judiciário apreciar qualquer lesão a direitos individuais, mas na de 1967, foram suspensas as liberdades individuais, instituída a censura prévia, suspenso os direitos políticos e, na malfada Emenda de 1969, tolerados os desaparecimentos de indivíduos contrários ao regime.

Nossa atual Constituição de 1988 que reconstruiu a democracia do Brasil é a que desejaram atingir.

Esse é um retrato de infelizes anos velhos que marcam nossa evolução, por isso escrevo para desejar um futuro mais feliz em 2025, tendo em vista a experiência com o passado e a empatia com o presente.

Escrevo lembrando Fernando Pessoa em seu “Breves são os anos”, poema do heterônimo Ricardo Reis, que assim diz:

“No breve número de doze meses o ano passa, e breves são os anos, pouco a vida dura. Que são doze ou sessenta na floresta dos números, e quanto pouco falta para o fim do futuro!”.

Ernane Malato
Ernane Malato é escritor, jurista, humanista, mestre e doutorando em Direitos Humanos pela PUC/SP e FADISP/SP, professor e pesquisador da Amazônia em diversas áreas sociais e científicas no Brasil e no exterior, membro das Academias Paraenses de Letras, Letras Jurídicas, Jornalismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Estado do Pará, atualmente exercendo as funções de Cônsul Honorário da República Tcheca na Amazônia.

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