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Sabem aquele velho conselho de que não devemos fazer compras de supermercado com fome? Pois é: na verdade é melhor não tomar nenhuma decisão se estivermos com fome. A revista Neuron publicou um estudo que revela que o “hormônio da fome”, conhecido como grelina, pode ter um impacto direto na atividade do hipocampo, estruturas localizadas no lobo temporal do cérebro, onde são tomadas decisões e formadas as memórias. Esta é a primeira vez que é comprovada cientificamente a relação entre a grelina, que é produzida no intestino, e o hipocampo (um experimento de 2016 feito pela Universidade de Gothenburg já havia relacionado a grelina com comportamentos impulsivos). Realizado por pesquisadores da University College de Londres, o estudo analisou o impacto do hormônio no processo de decisão em animais. Nele, os cientistas monitorizaram em tempo real o cérebro de ratos e analisaram o seu comportamento em relação ao apetite que sentiam, observando a atividade cerebral do seu hipocampo ventral.

Os resultados mostraram que, quando os ratos se aproximavam da comida sem sentirem fome, a atividade de um subconjunto de células cerebrais no hipocampo ventral aumentava, fazendo com que os animais não comessem. No entanto, quando eles estavam com fome, havia menos atividade nesta área cerebral e, portanto, não havia impedimento para que eles se alimentassem. Os níveis de grelina no sangue estão associados a esse comportamento, pois ela é capaz de atravessar a barreira que protege o cérebro e impulsionar a atividade cerebral. Resumindo: a presença do hormônio tem impacto na tomada de decisões. Por causa desta descoberta, foi possível controlar o comportamento dos bichinhos, fazendo com que deixassem de comer mesmo que estivessem com fome.

Estas novidades podem ter implicações futuras positivas para uma melhor compreensão da relação entre alimentação e saúde e tratamentos de distúrbios alimentares como anorexia ou a compulsão, que envolvem uma desregulação no circuito da fome no cérebro. A capacidade de tomar decisões independentemente do nível de fome é de extrema importância já que pode levar a graves problemas de saúde. A estimativa de um bilhão de pessoas com obesidade no planeta em 2030 é realmente alarmante, apesar de, ironicamente, a ONU estimar que, em 2023, 735 milhões de pessoas no mundo passem fome.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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