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Mesmo se pudesse, não colocaria em palavras o que é, nem o que quer, nem o que faz, nem o que gosta, nem do que é capaz. Não chegaria nem partiria muito menos estaria lá, não olharia nem fingiria, não limitaria o que conjugar, esqueceria de expressar, lembraria de ficar.
Não fugiria ao encontrar, não aparentaria não estar, falaria coisas sérias quando tudo fosse uma brincadeira, ficaria abobalhado quando a verdade chegasse, riria do nada, contemplaria o tudo, suaria as mãos, viraria fácil, dormiria no teto, esqueceria um monte, guardaria para sempre.
E por mais estranho que fosse, esconderia e compartilharia, sorriria ao ser pego, endureceria às questões, quem sabe emudeceria depois das duas, e sonharia depois da chuva, mostraria o impossível, diria nem cedo nem nunca, jamais.
Perderia todas, feliz da vida, sem pestanejar, andando de bicicleta, plantando bananeira. E tomaria sem reclamar café escaldante na tarde mais quente do ano, e tomaria sorvete em graus abaixo de zero. Nadaria nas pedras que todo dia farão seu caminho, agarraria o que ninguém quisesse, agradeceria pelo infortúnio, e com isso seria tão, tão feliz…
Seria estranho aos que passassem, normal aos que ficassem, único aos que observassem. Sentiria, aconteceria, choraria e sorriria mais que o normal, tudo isso se um dia fosse, se um dia pudesse dizer o que é, o que quer, o que faria se fosse capaz de colocar em palavras, se soubesse em que pessoa conjugar.”
(Gabriella Florenzano, no blog Flores de Agosto).
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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