Publicado em: 9 de junho de 2025
O Produto Interno Bruto (PIB), como já está dito, mede produção e não desenvolvimento. Tecnicamente, mede o “valor financeiro total de todos os bens e serviços finais produzidos dentro de um país em um determinado período de tempo”. Se mede produção e produção é o resultado de produzir, mede na verdade a capacidade de trabalho da nação, sua força de trabalho incluindo aí a tecnologia e a capacidade gerencial, que também são dimensões do trabalho humano entendida como a capacidade dos seres humanos transformarem o meio para a solução de problemas.
Desenvolvimento, segundo a ONU, é um conceito amplo que vai muito além do simples crescimento econômico, aí sim, corretamente medido pelo PIB. Desenvolvimento se expressa sobretudo como melhoria da qualidade de vida do conjunto do Sociedade, o que implica diretamente na redução das desigualdades sociais, na promoção do bem-estar de baixo pra cima, na sustentabilidade ambiental e garantia de direitos humanos.
O desenvolvimento, portanto, busca atender às necessidades das gerações presentes sem comprometer os insumos e a capacidade das gerações futuras de suprirem as suas, refletindo um equilíbrio entre crescimento, equidade e sustentabilidade. Tal como expresso no relatório da ONU chamado “Nosso Futuro Comum”, publicado em 1987, em preparação à segunda grande Conferência da ONU sobre Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992, quando se consolidou o conceito “Desenvolvimento Sustentável” como sendo aquele que se desdobra sobre o equilíbrio entre o econômico, o social e o ecológico.
Este entendimento, hoje amplamente majoritário entre os países, é processo que inicia em 1972, quando o Brasil, vejam que não é de hoje, chocou o planeta na primeira grande Conferência da ONU em Estocolmo/Suécia, fazendo com que o conceito de “crescimento” econômico ganhasse diferença do conceito de desenvolvimento ou “melhora” da economia.
Lá, pela primeira vez, fizeram o ranking mundial dos países pelo PIB. O Brasil apareceu em oitavo, à frente de muitas nações do Primeiro Mundo, quando o Brasil, na própria ONU, por sua qualidade de vida, era classificado como “País de Terceiro Mundo”, pondo a nu que esta classificação era mais política do que, de fato, econômica. Importante registrar que neste processo, além do conceito de Desenvolvimento Sustentável, também surgiu um novo indicador, elaborado pela ONU exatamente para tentar medir Desenvolvimento, o IDH.
O Índice de Desenvolvimento Humano, é um indicador complexo que sintetiza estatisticamente o crescimento, através do PIB per capita(por habitante), com a Educação e a Saúde média da mesma população. Mesmo sem pegar outras dimensões fundamentais para a qualidade de vida, como moradia e segurança, já revelou a falácia do PIB como indicador de desenvolvimento econômico. Por exemplo nós, o Brasil que hoje ocupa a 7ª maior capacidade produtiva do planeta, medido pelo PIB, está na 82ª posição no ranking das nações pelo IDH que representa melhor a qualidade de vida, aí sim “desenvolvimento”, da nação.
A Fake, ou melhor, a mentira colonizadora que contam, é que o PIB mede desenvolvimento. Ainda hoje, é amplamente utilizado como um indicador síntese da atividade econômica, refletindo o tamanho e a “saúde da economia”, como se isso fosse o resumo do desenvolvimento da Sociedade. Daí promovendo o PIB à referência política de avaliação da gestão econômica dos governos, como vimos agora, nos festejos de que o Brasil foi o segundo maior PIB(crescimento), no primeiro trimestre de 2025, entre todas as nações do planeta.
Ora, se os grandes meios de comunicação informassem os fatos, diriam que o governo Lula está de parabéns com o crescimento de 1,3% do PIB no primeiro trimestre de 2025, no entanto…É preciso dizer que partindo da compreensão de que a absurda distância entre IDH e PIB no Brasil, constata que estamos em uma economia doente. Já que “crescimento” é meio e só deve ser festejado se “melhora” economicamente a qualidade de vida da Sociedade como um todo, o que vem ocorrendo, mais uma vez parabéns ao Lula, mas com uma timidez absolutamente desproporcional e sustentada por iniciativas frágeis, como apenas políticas públicas.
O setor que mais contribuiu estatisticamente para o PIB recorde que tivemos, foi a grande agropecuária que cresceu mais de 12% no mesmo período. Setor majoritariamente exportador em regime de commoditie, como mercadoria que disputa o mercado mundial, não por valor agregado, mas por preço. Se é por preço, é preciso reduzir custos para defender o lucro. Na Amazônia isto tem incentivado grilagem e trabalho escravo. Recomendo que consultem o Observatório de Direitos Humanos do Pará, no site da Secretaria Estadual de Direitos Humanos (SEIRDH).
Enquanto commoditie, o setor da grande agropecuária, ainda buscando baixar custos, se junta com outros setores da mesma natureza econômica cujo objetivo é exportação, e por não depender da renda interna, opera politicamente para pressionar para baixo os salários e remunerações do trabalho que para eles é só custo, mas para os demais setores empresariais, que vendem para o mercado interno, também é renda e consumo.
A combinação entre, trabalhadores sitiados pela própria desorganização, e empresários do varejo local sitiados pela própria ignorância de sua posição econômica, explica o fato de crescermos economicamente e piorarmos a qualidade de vida da maioria, nos aproximando do limite da capacidade de suportar conflitos, frustrações, e todas as coisas que decorrem do simples fato de sermos humanos e que deveria estar no centro do próprio modelo econômico.
Faça um exercício e reflita do ponto de vista humano o fato de que 53% de tudo que é arrecadado pelo poder público vem de brasileiros e brasileiras com renda mensal de até 3 salários mínimos. Se somarmos os que ganham até 10 SM vamos bater em 85% da arrecadação pública. Viu quem sustenta o Brasil|? Agora pense, 155 bilhões deixam de entrar nos cofres públicos porque são renúncia fiscal em benefício de grandes corporações empresariais, “de fora” inclusive. Incentivando os mesmos que pagam no máximo 6% de suas rendas em impostos enquanto um reles professor paga 27,5%. 155 bi são 5% do PIB. Educação e saúde somados não chega a 10%.
Portanto, não há como negar que estamos em Guerra Civil. Vejam a versão mais eloquente que é o Rio de Janeiro. Percebam que o que chamam de Crime Organizado é um modelo de Sociedade que avança a ponto de registrar nos muros das periferias o diário Oficial da facção da quebrada, confira.
A busca de equilíbrio econômico entre crescimento e melhoria da qualidade de vida é crucial. No Brasil, equilíbrio significa justiça, não juros, e aí sim saúde…mental inclusive.
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