O Professor Doutor Jonas Monteiro Arraes, musicista, maestro, pesquisador e escritor, docente da Universidade do Estado do Pará, apresentou na Universidade Estadual Paulista a palestra “Tão longe e tão distante: a presença de Carlos Gomes na belle époque de Belém do Pará”, durante o evento intitulado “Encontro Carlos Gomes: 100 anos após a Semana de Arte Moderna”, em São Paulo, dedicado à memória do Pe. José Penalva (1924-2002), compositor e musicólogo, estudioso de Carlos Gomes. O convite especial partiu do Prof. Dr. Lutero Rodrigues, docente da UNESP, que ofereceu hospedagem, alimentação, translado e passagem aérea, o que demostrou a importância da participação. Não é para menos: o maestro Jonas Arraes é o único musicólogo em atividade no Pará a se dedicar ao tema Carlos Gomes, com largos estudos sobre o Instituto Estadual Carlos Gomes e a história da música no Pará.
Na véspera da Semana de Arte Moderna, a imagem pública de Carlos Gomes, o mais popular compositor brasileiro do século XIX, foi duramente depreciada por Oswald de Andrade, como estratégia de propaganda da própria Semana, que se tornou marco da História. Com isso, a atitude ganhou enorme repercussão, causando sérios danos à memória e até mesmo à aceitação das composições de Carlos Gomes. O advento do centenário ensejou um Encontro de Musicologia para avaliar o estágio atual do conhecimento acerca de Carlos Gomes, procurando despertar o interesse de jovens pesquisadores.
Doutor em Musicologia (UNICAMP), Jonas Arraes atua no campo da história da música, com ênfase à história da música na Amazônia. Professor aposentado do IECG (Belém), foi contrabaixista por 35 anos, em diversas orquestras brasileiras. Sua tese de Doutoramento resgatou a história da presença de Carlos Gomes na belle époque de Belém do Pará, nos anos de 1882 a 1896. Para tanto, ele pesquisou a bibliografia especializada na vida e obra do maestro e as fontes documentais e jornalísticas da segunda metade do século XIX. A tese é composta de três capítulos. O primeiro apresenta Belém no contexto da riqueza do ciclo da borracha, dando enfoque à sua economia, à influência da cultura europeia e ao movimento musical. O segundo descreve a presença de Carlos Gomes na cidade, de 1882 a 1883 e a receptividade de suas óperas nas temporadas líricas do Theatro da Paz. O terceiro capítulo discorre sobre o envolvimento de Gomes com o Pará republicano, relatando os fatos acontecidos nos anos de 1895 e 1896, assim como o surto de febre amarela que atrapalhou em muito a temporada lírica, o sofrimento físico, morte, as exéquias e a partida do corpo do grande maestro para sua terra natal em Campinas, SP. A pesquisa revelou acontecimentos, imagens e documentos inéditos sobre a vida e a obra de Antônio Carlos Gomes.
Jonas Arraes dissertou, também, sobre os 140 anos da ópera Salvator Rosa, composta em 1874 por Carlos Gomes, depois do enorme sucesso da estreia de IL Guarany (1870) no Teatro Alla Scala de Milão e a indiferença com que foi recebida Fosca (1873). Drama lírico em quatro atos, Salvator Rosa estreou em 21 de março de 1874 no Teatro Carlo Felice, em Gênova – Itália. O libreto de Antonio Ghislanzoni foi extraído do romance “Masaniello” de Mirecourt. Acabou por se tornar um de seus maiores sucessos, tanto que nos anos 1876-77 foi apresentada na abertura da temporada lírica de seis dos mais importantes teatros italianos.
No Brasil, a última produção de Salvator Rosa no Theatro Municipal de São Paulo foi há quarenta e cinco anos. E no Rio não houve outra montagem desde 1946. Ano passado o maestro Jonas Arraes sugeriu que fosse encenada durante o Festival de Ópera do Theatro da Paz em 2022, mas a ideia não vingou.
Assistam ao evento no YouTube, clicando aqui.
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